Encontramos em Alvo Duplo (Bullet to the Head) um pouco daquele brilho que o diretor Walter Hill em seus filmes dos anos 1970 e 1980; por exemplo, Caçador de Morte (The Driver, 1978), Os Selvagens da Noite (The Warriors, 1979) e 48 Horas (48 Hrs., 1982). O veterano cineasta está em seu habitat natural, o filme policial. Desta vez, traz um toque de film noir com um protagonista à margem da lei, James Bonomo (Sylvester Stallone), que começa a história narrando em voz off, como os detetives durões do gênero. Ele é um assassino de aluguel traído em seu último serviço em Nova Orleans, onde mora. Como quer vingar a morte de seu amigo, e, mais importante (para ele), receber o restante do pagamento, Bonomo aceita a ajuda de um policial de outro estado, o honesto Taylor Kwon (Sung Kang).
O filme se baseia na graphic novel “Du plomb dans la tête”, de Alexis Nolent e Colin Wilson. É uma trama movimentada, com muitas mortes no caminho dessa dupla inusitada de protagonistas. Na verdade, Taylor Kwon preferia prender James Bonomo, mas ele sabe que precisa desse criminoso para solucionar o caso. Afinal, além de mais forte e letal, ele tem a malandragem que falta ao policial. Entre eles, surge ainda a figura da bela filha de Bonomo, a tatuadora Lisa (Sarah Shahi).
Mas, o personagem que mais chama a atenção é o vilão Keegan, vivido por Jason Momoa, antes de encarnar o Aquaman (2018). Ele também ganha a vida como matador de aluguel, mas ele é, de fato, um psicopata, e admite não estar interessado no dinheiro. Ruim para o empresário desonesto que o contrata, pior ainda para o rival Bonomo, a quem desafia para um peculiar (e eletrizante) duelo com machados, a melhor cena do filme.
Um divertido filme amoral
Devido ao protagonista anti-heroico, Alvo Duplo assume uma posição amoral. Por isso, não teme mostrar o ganho material que Bonomo consegue no final dessa aventura, nem seus insultos racistas ao indesejado parceiro dessa missão. Mas o personagem principal agrada porque se preocupa com a filha e porque salva Kwon em mais de uma situação de perigo. E, também, porque Stallone cai bem nesse papel, reinventando a sua figura perante o público. Desta vez, ele não é um policial durão como Stallone: Cobra (Cobra, 1986) ou o ex-Boina Verde Rambo – Programado Para Matar (First Blood, 1982), injustamente perseguido. Bonomo é simplesmente um frio mercenário assassino.
À parte essa questão moral, Alvo Duplo possui momentos divertidos de choques de personalidades opostas, e muita ação com cenas de luta bem dirigidas pelo especialista Walter Hill. Bem superior à média de filmes do gênero.
