O filme anterior da diretora Jennifer Kaytin Robinson, Alguém Especial (Someone Great, 2019), sua estreia, é uma divertida comédia sobre empoderamento feminino. Ela também é coautora do roteiro do engraçado Thor: Amor e Trovão (Thor: Love and Thunder, 2022). Então, já temos argumentos suficientes para conferir seu novo trabalho, Justiceiras (Do Revenge), comédia que acaba de estrear na Netflix.
O elenco também traz atrativos, em especial para fãs de séries. Como protagonistas, estão Camila Mendes, de Riverdale, e Maya Hawke, de Stranger Things. Em papéis coadjuvantes, o filme traz Austin Abrams (de Euphoria), Rish Shah (de Ms. Marvel), Alisha Boe (de 13 Reasons Why), entre outros. E, ainda, participações especiais de Sarah Michelle Gellar, de Buffy, a Caça-Vampiros, e Sophie Turner, de Game of Thrones.
A trama de Justiceiras explora a habitual obsessão por popularidade no ensino médio nos EUA. No caso, no último ano, quando as personagens estão com 17 anos. Quase em tom de sátira, vemos que Max (Austin Abrams) é uma espécie de celebridade na escola. Como consequência, sua namorada Drea (Camila Mendes) goza de um posto similar ao de uma primeira-dama. Até que, antes da pausa para as férias de verão, ela manda um vídeo íntimo para o namorado, que o deixa vazar nas redes sociais. Arrasada, ela conhece durante as férias Eleanor (Maya Hawke), uma nova aluna da sua escola. Esta também tem traumas do passado, em relação a uma colega de Drea, Carissa (Ava Capri), que espalhou o boato de que ela era uma lésbica que dava em cima de todas.
Um pacto sinistro
O enredo se inspira em Pacto Sinistro (Strangers on a Train, 1951), quando Drea propõe a Eleanor que elas troquem suas vinganças. Ou seja, Drea arrasará com a vida de Carissa, e Eleanor a de Max. Assim como no filme de Alfred Hitchcock, a lógica parte do pressuposto que a vítima não conhece seu algoz e, portanto, ninguém suspeitaria. Essa ideia central promete um filme interessante, mas ela se sustenta só até a sua metade.
O plano para acabar com a reputação de Carissa, que cultiva maconha e outras plantas alucinógenas na estufa da escola, parece mirabolante demais. Drea pensa em colocar essas drogas na comida do jantar que Carissa prepara para uma celebração da turma. Mas, o próprio roteiro admite que é demais, e o que funciona mesmo é a delação para a diretora sobre o cultivo proibido. Quanto a Max, o plano é revelar que ele sempre trai suas namoradas e tem casos com várias garotas, o que vai contra a bandeira a favor do empoderamento feminino que ele finge levantar.
Personagens densos
O filme se preocupa em aprofundar os seus personagens principais. Tanto Drea quanto Eleanor possuem várias camadas. Drea começa o filme como mais uma das garotas materialistas. Mas, depois descobrimos que ela é na verdade pobre, e se torna uma pessoa melhor quando encontra a amizade verdadeira de Eleanor. Porém, esta possui também um lado negro. No entanto, Eleanor não se torna uma vilã clichê, como mostra a cena em que ela se olha no espelho e já não sabe mais quem é. Por isso, borra o batom na boca e fica com aparência de monstro, que é como ela está se sentindo por dentro.
Com isso, Justiceiras se torna um filme mais denso do que aparenta ser. Claro que, dentro das devidas proporções, ou seja, comparando com a média da comédia besteirol americana. Os fãs desse gênero poderão até estranhar, e o filme não chega a ser muito engraçado. Mas, é louvável ver o trabalho de uma cineasta nova com ganas de fugir da mesmice.
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Ficha técnica:
Justiceiras | Do Revenge | 2022 | 118 min | EUA | Direção: Jennifer Kaytin Robinson | Roteiro: Jennifer Kaytin Robinson, Celeste Ballard | Elenco: Camila Mendes, Maya Hawke, Austin Abrams, Rish Shah, Talia Ryder, J.D., Paris Berelc, Maia Reficco, Sophie Turner, Rachel Matthews, Sarah Michelle Gellar.
Distribuição: Netflix.