Missão Impossível 7 (filme)
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Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
6/10

6/10

Crítica | Ficha técnica

O jornal britânico The Guardian se (e nos) pergunta: “is the new Mission: Impossible the Tom Cruisiest film Tom Cruise has ever made?” Ou seja, querem saber se o novo MI é o filme mais tomcruisiano, mais típico do ator, entre todos os que ele fez. A resposta, qualquer que seja, é menos importante que os motivos que levaram o jornalista à pergunta (ele adorou o filme, por sinal). Estão em Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1 as cenas com o astro correndo como se fosse um atleta de resistência em seus 20 anos.

Também estão ali os momentos que atestam a bondade de Cruise, sua incapacidade de matar uma pessoa se houver outra saída. Estão ali as mulheres que traem por Cruise. Todas, aliás, parecem sentir uma atração irresistível por ele, mesmo quando muito mais jovens, mesmo com as rugas do astro cada vez mais indisfarçáveis, ainda mais pela proximidade constante da câmera.

Sem etarismo: é legal ver um ator envelhecer diante das câmeras. Mas esse padrão faz parte do narcisismo de Cruise, que parece aumentar a cada filme. Este é seu filme mais tomcruisiano? Talvez. Mas não me surpreenderia se o próximo o ultrapassasse neste quesito. Ser o mais tomcruisiano, aliás, não o faz melhor ou pior. É apenas uma constatação de seu poder na indústria. O magnetismo do astro também é inegável, o que talvez explique que até bons críticos tenham se entusiasmado com o medíocre Top Gun: Maverick.

MI parece ser a série do coração do ator e produtor. No primeiro, já com grande poder em Hollywood, contou com Brian De Palma, diretor sempre autoral, mesmo quando cerceado. Para o segundo longa, foi chamado o grande John Woo, devidamente cooptado por Hollywood e considerado um dos grandes cineastas de ação dos anos 1980 e 1990. De Palma e Woo são cineastas do descontrole, das forças em constante desmesura. Não à toa são os dois melhores longas de toda a série. Mas Cruise queria um descontrole que ele próprio causasse, ou que pudesse controlar. O caos organizado de um filme de ação palatável.

Para o terceiro, assumiu a direção J.J. Abrams, então estreante, numa clara tentativa de apagar as arestas, os excessos autorais, e reafirmar a série como um veículo para Tom Cruise. Ele seria a estrela máxima, não o diretor. Não deu muito certo. Na época, MI3 não chegou nem perto da sensação coletiva que este último tem provocado. Talvez por J.J. Abrams não ser nem Woo, nem De Palma. E, por incrível que pareça, não ser Christopher McQuarrie.

Após mais uma mudança para o quarto longa, com Brad Bird, um diretor que vinha da animação, de Ratatouille e Os Incríveis, McQuarrie, que havia dirigido Cruise em Jack Reacher: O Último Tiro, assume no quinto filme e permanece até então, já confirmado para o oitavo, que é uma parte 2 do sétimo, numa estratégia já utilizada em outras séries (Jogos Vorazes, Harry Potter, Os Vingadores).

Os motivos que levam o astro a morrer de amores por McQuarrie permanecem um mistério. Ou melhor: só se explicam em termos de “não ofuscar o brilho da maior estrela”. Se os dois longas anteriores de McQuarrie não revelavam nada de especial em sua direção, que era funcional, discreta, o feijão com arroz que todo astro gosta, este sétimo, Missão: Impossível – Acerto de Contas – Parte 1, começa da pior maneira possível: ângulos péssimos de câmera, planos de no máximo dois segundos sem que um deles sequer fique em nossa memória, o pior prólogo de toda a série. Para piorar, após a cena inicial no submarino, já de uma indigência abaixo da crítica, homens do serviço secreto são alertados, em um jogral patético, sobre o perigo que pode causar uma chave em poder de inimigos.

É tão ridículo que parece paródico, e talvez assim seja, mas nada que venha depois confirma essa impressão. As tiradas humorísticas são regras do cinema de ação, estão em qualquer filme do gênero. As alegações de um maior grau de humor me parecem infundadas. Não é maior que o do filme de John Woo, por exemplo. Penso estar no mesmo nível dos outros longas de McQuarrie. O jogral, então, pode ser involuntariamente cômico, ao contrário do uso de máscaras, que continua frequente aqui até um defeito na máquina cortar nosso barato.

Seja como for, esse prólogo parece ter sido filmado apressadamente, para substituir algum outro ou coisa que o valha. Ou uma equipe de terceira unidade o filmou com o propósito de sabotar o filme. Mas aqui já estou fazendo piada especulativa com a ruindade da coisa, e preciso ser justo com o que virá depois.

De fato, as coisas melhoram um bocado depois do prólogo, principalmente na boa sequência do aeroporto. O time que ajuda Ethan Hunt, estabelecido com Ving Rhames, Simon Pegg e Rebecca Ferguson, já está afiado e toda a sequência lida com despistes e disfarces eletrônicos. O ritmo é bom, a direção é novamente funcional. Não brilha, mas permite que o jogo de perseguições seja emocionante.

A equipe está atrás da outra metade da chave, que teria o poder de controlar uma espécie de entidade da inteligência artificial capaz de alterar todo o mundo. Uma ladra profissional (se me perdoam o disparate) chamada Grace (Hayley Atwell) entra no jogo e na mira de todos os governos e organizações que matam e traem por essa chave. Inicialmente com um outro jogo em relação ao herói, um jogo de atração e tapeação, como é bem comum em toda a série.

Este sétimo longa parece um apanhado de todos os motivos e clichês que sustentaram a série desde a fase televisiva dos anos 1960, passando pelas novas roupagens e pela uniformização conquistada com McQuarrie (alguns dizem que foi no terceiro que essa uniformização se deu, mas não sei se vejo dessa maneira).

Pois o que falta ao filme é justamente o desarranjo arriscado que De Palma e Woo faziam sem muito pudor, meio a contrabando. Tudo que é mais caótico neste novo filme parece vir de erros de direção ou montagem, pois a trama é até bem explicadinha, com um mcguffin reiterado o suficiente para notarmos o quão tola é.

Exemplos dos problemas que vejo de direção e montagem estão na sequência do trem. A entrada de Cruise no trem, de paraquedas após um salto no abismo com uma moto, é uma ideia ótima para filmes de ação, mas precisava de um ajuste melhor no tempo de corte. Após eles escaparem da queda do último vagão que ficou dependurado no abismo, o corte é péssimo, parece até imposto por algum tipo de erro percebido só na pós-produção. A luta em cima do trem, esse clichê que já deu o que tinha que dar (tem também no novo Indiana Jones), tem uns cortes bem esquisitos, coisa que qualquer filme de ação hollywoodiano dos anos 1980 e 1990 fazia melhor.

A trama ser tola não é necessariamente um problema. As da série John Wick também são, mas entre uma série e outra há uma diferença tremenda, pois enquanto uma melhorava a cada longa, MI só mantém o nível parcialmente bem-sucedido que estacionou no quarto longa, Missão: Impossível – Protocolo Fantasma. A direção de Chad Stahelski em John Wick 4, como a de George Miller em Mad Max: Estrada da Fúria, atinge um patamar muito acima que o atingido por McQuarrie, mesmo com este último repetindo Stahelski em cenas de ação numa boate, com um carro sem as portas ou com perseguição automobilística por uma rotatória cheia de trânsito.

A questão me parece mesmo de direção e montagem, felizmente, apenas em partes do filme. Não é tecnicismo. Esses problemas deveriam aparecer para qualquer espectador, mesmo aquele que não consegue identificar onde estão, percebendo apenas que algo está errado. Se hoje estamos todos viciados em audiovisual mal gravado e mal editado, do tik tok ou do YouTube, não é desculpa para aceitar um trabalho tão descuidado, em algumas sequências, num filme dessas proporções.

O filme sobrevive pelo que foi construído até aqui na série, pelo carisma de todo o elenco e por algumas cenas e sequências, essas sim, bem executadas, tendo o exemplo máximo na do aeroporto. No todo, é meio piloto automático. Para os fãs, já é o bastante.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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Ficha técnica:

Missão: Impossível – Acerto de Contas Parte 1 | Mission: Impossible – Dead Reckoning Part One | 2023 | 163 min | EUA | Direção: Christopher McQuarrie | Roteiro: Christopher McQuarrie, Erik Jendresen | Elenco: Tom Cruise, Ving Rhames, Simon Pegg, Rebecca Ferguson, Vanessa Kirby, Hayley Atwell, Shea Whigham, Pom Klementieff, Esai Morales, Henry Czerny, Rob Delaney, Cary Elwes, Indira Varma, Mark Gatiss, Charles Parnell, Greg Tarzan Davis, Frederick Schmidt.

Distribuição: Paramount Pictures.

Trailer:
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Onde assistir:
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