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Urubus (filme)
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Urubus

Avaliação:
6/10

6/10

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Crítica | Ficha técnica

Não temos o studio system no Brasil, mas em Urubus sentimos algo equivalente. Afinal, a primeira cartela que aparece no filme é do produtor executivo Fernando Meirelles, e, conforme assistimos ao longa, nos convencemos que a mão dele pesa mais do que a do diretor estreante Claudio Borrelli. Este vem do mercado publicitário, tal como Meirelles, portanto, não deve ter tido problemas em aceitar que o visual assuma importância principal neste trabalho.

Cidade de Urubus

Urubus retrata os pichadores da cidade de São Paulo, tendo como gancho a histórica invasão de um grupo desses artistas marginais na 28ª Bienal de São Paulo, em 2008. Assim, a fim de transpor para as telas o ideal transgressor da pichação, o filme possui um visual estilizado. A câmera registra os movimentos rápidos dos pichadores, que precisam trabalhar aceleradamente antes que a polícia apareça. Por isso, a imagem é trêmula, desfocada e montada com vários cortes rápidos, impossibilitando ao espectador decifrar tudo que vê. De fato, o público testemunha tudo como se olhasse através da handcam da personagem Valéria, uma estudante que não é do grupo, e a única interpretada por uma atriz profissional – Bella Camero, de Malhação (2012), Marighella (2019) e Música Para Morrer de Amor (2019).

A atuação de Bella Camero se impõe nas cenas, e ofusca até o protagonista Trinchas (Gustavo Garcez). A ideia de trabalhar com atores não profissionais, e preparados por Fátima Toledo repete a experiência de Cidade de Deus (2002), obra maior de Fernando Meirelles. Nem sempre funciona e nem todos do elenco estão bem, mas merece destaque Bruno Santaella, que interpreta CLB, o pichador que se envolve com o crime.

Aliás, Meirelles deve ter sugerido, também, a cena em que CLB foge da polícia entre as vielas e telhados de uma favela. É uma versão paulista da abertura de seu filme de 2002. E, apesar de não ser original, acaba sendo um dos momentos mais emocionantes de Urubus.

Muita ação e pouca emoção

No entanto, o roteiro não consegue dar substância ao visual estilizado. Sem dar profundidade ao personagem principal Trinchas, não entendemos suas motivações para se dedicar com tanta paixão à pichação. Sua vida pessoal é uma incógnita, não sabemos como ganha a vida, nem com quem mora – sua mãe surge tardiamente no filme. Na verdade, conhecemos mais sobre Valéria, sua namorada, do que sobre ele.

Por outro lado, os eventos se sucedem sem que o filme aproveite seus potenciais dramáticos. E, vários deles gerariam fortes doses de suspense, como os desafios de escalar prédios cada mais inalcançáveis, propostos por Trinchas. Um exemplo claro desse desperdício de momentos dramáticos é a luta contra o tempo para salvar a vida do pichador ameaçado de morte. Porém, isso se perde numa elipse que leva para uma outra cena que, igualmente, renderia muita emoção, a do roubo de sprays. Porém, esse trecho falha até em evidenciar que o golpe foi proposto pelo garoto que teve sua vida salva.   

Dessa forma, o filme empilha vários perrengues que os personagens enfrentam. Entre eles, a fuga da polícia, o desafio de pichar os lugares, o furto e o roubo de sprays, o envolvimento com drogas e armas, a briga contra rivais. Além disso, Urubus retrata as festas e a pobreza. E, no caso de Trinchas, o romance com uma menina de classe média.

Contudo, Urubus só levanta, mas não mergulha devidamente na questão essencial do seu tema, quer seja, pichação é arte ou crime? Essa discussão entra muito superficialmente no filme, e propõe que tudo se resolve no convite da Bienal de Berlin – até mesmo o romance entre Trinchas e Valéria.


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