“Águas Rasas”: A Bela combate a Fera, como fez Ripley em 1979
A trams de “Águas Rasas” é simples. Quando Nancy (Blake Lively) resolve sair da rotina para repensar sua vida surfando em uma praia deserta onde sua falecida mãe esteve, ela é atacada por um enorme tubarão branco. Seu único refúgio é uma pedra perto da praia que em algumas horas ficará submersa com a maré alta.
Após dirigir três filmes de ação estrelados por Liam Neeson – “Desconhecido” (Unknown, 2011), “Sem Escalas” (Non-Stop, 2014) e “Noite Sem Fim” (Run All Night, 2015) – o espanhol Jaume Collet-Serra assume o desafio de filmar uma história com apenas um personagem humano, lutando pela sua sobrevivência contra um feroz animal predador. É como se revisitássemos dois filmes de Steven Spielberg: “Encurralado” (Duel, 1971) e, obviamente, “Tubarão” (Jaws, 1975). O primeiro narrava o desespero de um motorista solitário perseguido pelas estradas por um misterioso caminhão. O segundo revolucionou o cinema americano tanto por ser um dos primeiros lançamentos no formato massivo de blockbuster como por suas qualidades cinematográficas, tornando-se modelo para outras produções do gênero, com cenas icônicas que se tornaram antológicas. De fato, o ataque do tubarão acompanhado da trilha sonora se tornou tão conhecida quanto a cena do assassinato no chuveiro de “Psicose” (Psycho, 1960).
Suspense intenso
“Águas Rasas” consegue misturar bem esses ingredientes. Assim, cria um clima de suspense intenso principalmente no início do segundo terço do filme, a partir do momento em que o tubarão surge numa bela cena por dentro das ondas. A referência da câmera subjetiva do tubarão olhando do fundo do mar para sua presa sobre as águas funciona perfeitamente. Mas, como sempre acontece, o temor maior se mantém enquanto não conseguimos ver o “monstro” por inteiro. Submerso na água, desconhecer onde ele está provoca muito dessa emoção.
É por isso que há uma queda no suspense no meio do filme. Em especial, pela precipitada tomada do alto onde se vê a heroína Nancy na pedra e o tubarão nadando ao redor. Ainda mais considerando o exagero das suas proporções gigantescas. Porém, logo o filme recupera sua excitação, quando a maré força Nancy a buscar alternativas desesperadas de fuga. A solução final, no entanto, é um tanto difícil de se engolir. Mesmo assim, “Águas Rasas” entrega toda a emoção que se espera dele.
O roteiro de Anthony Jaswinski acerta ao colocar uma heroína feminina no único papel principal. Dessa forma, repete a luta solitária de Ripley (Sigourney Weaver) contra um ser poderoso em “Alien, o Oitavo Passageiro” (Alien, 1979) e ecoando a tendência atual de mulheres combativas, como a Furiosa de “Mad Max: Estrada da Fúria” (Mad Max: Fury Road, 2015) e a Rey de “Star Wars: O Despertar da Força” (Star Wars: Episode VII – The Force Awakens, 2015). Mantém a contemporaneidade, ainda, ao usar um vídeo gravado numa GoPro para chamar a ajuda para Nancy.
Ficha técnica:
Águas Rasas (The Shallows, 2016) 86 min. Dir: Jaume Collet-Serra. Rot: Anthony Jaswinski. Com Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo Josue Lozano Corzo, Brett Cullen, Sedona Legge, Pablo Calva, Diego Espejel, Ava Dean, Chelsea Moody, Sully ‘Steven’ Seagull.
Assista: entrevista com Blake Lively sobre “Águas Rasas”