The Flash (2023) sinaliza o esgotamento das histórias sobre multiversos. O pico dessa temática foi Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo (2022), o arrebatador de Oscars deste ano. Ainda assim, não era para todos os gostos. Outros filmes posteriores continuaram a desgastar a ideia; entre eles, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022) e Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (2023). Este último, uma animação, é sequência do ótimo longa de 2018 que indicou que o multiverso poderia render tramas inteligentes e divertidas.
Mas The Flash começa a repetir propostas que já apareceram em outros filmes. Por exemplo, um dos seus chamarizes de público é o retorno de Michael Keaton ao papel de Batman. Essa interessante mistura de multiverso com metalinguagem, porém, aconteceu recentemente em Homem-Aranha: Sem Volta para Casa (2021). E, a bem da verdade, estava no centro de Homem-Aranha: No Aranhaverso (2018). Outras aparições nostálgicas, e apelativas – não só de atores que viveram os heróis principais da DC Comics no cinema, como até um famoso que não completou o seu filme sobre o Superman – tentam surpreender, mas o público já espera por elas.
Batman salva
De qualquer forma, o Batman de Michael Keaton é o que o filme tem de melhor. O poder do Flash (Ezra Miller), o da supervelocidade, não rende muita emoção no cinema, e a tentativa de quase congelar o que se passa ao redor do herói em ação torna suas ações ainda menos empolgantes. Então, quando o envelhecido Bruce Wayne dá lugar ao ainda poderoso Batman o filme cresce – e até desperta parte do público que tinha se entediado com o embate entre o Barry Allen do universo inicial com a sua versão mais jovem (e extremamente irritante, como o próprio admite). No entanto, vale salientar que não é culpa de Ezra Miller que, embora não tenha a presença de tela de Michael Keaton, consegue diferenciar plenamente as duas versões do seu personagem.
De volta para o futuro
Voltando à trama, não dá mais para engolir a artimanha de voltar no tempo para evitar algo ruim (desta vez, um motivo pessoal: a morte da mãe de Barry). Já foi difícil com Vingadores: Ultimato (2019), que utilizou essa mutreta para salvar a metade dos seus protagonistas. E, claro, esse retorno do tempo do Flash o coloca num universo paralelo com várias coisas diferentes. Isso rende algumas piadas com antigos filmes, principalmente com De Volta para o Futuro, mas esperamos que não tenha sido essa a motivação para escrever assim o roteiro.
Nesse mundo alternativo, as duas versões do Flash se unem ao Batman para enfrentar o General Zod (Michael Shannon), que está atrás da Supergirl (Sasha Calle vivendo uma personagem insossa). Nesse embate, o vilão extraterrestre é tão poderoso que é impossível derrotá-lo. É aí que o próprio filme The Flash parece apontar para o esgotamento do multiverso e da viagem no tempo. O Flash imaturo retorna várias vezes para o passado para tentar salvar esse mundo, mas é inútil. E cada retorno resulta em novos universos paralelos. O Flash maduro põe um basta, e o público de cinema assina embaixo: já chega de multiversos.
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Ficha técnica:
The Flash | 2023 | EUA | 144 min | Direção: Andy Muschietti | Roteiro: Christina Hodson, Joby Harold | Elenco: Ezra Miller, Sasha Calle, Ben Affleck, Michael Keaton, Michael Shannon, Ron Livingstone, Antje Traue, Jeremy Irons, Temuera Morrison, Kiersey Clemons, Saoirse-Monica Jackson, Maribel Verdú, Rudy Mancuso, Isabelle Bernardo.
Distribuição: Warner Bros.