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46ª Mostra | O que vale a pena ver (e o que não) por Sérgio Alpendre

46ª Mostra SP | O que vale a pena ver (e o que não) por Sérgio Alpendre
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É certo que a Mostra Internacional de São Paulo perdeu parte de seu encanto por uma série de fatores que incluem a mudança de perfil dos cinéfilos e a quantidade de filmes sofríveis exibidos sem muito critério. Mas é sempre uma festa quando acontece, tem sempre um punhado de filmes bons a serem garimpados, e não é raro ver quem tire férias ou viaje à capital paulista para acompanhar o evento.

Pensando nos cinéfilos e cinéfilas que pretendem ver 10, 20, 30 ou até 40 filmes nessas duas semanas (e há quem veja muito mais), montamos esta lista de recomendações. Necessário dizer que este crítico só viu alguns dos filmes, eles estão com as avaliações pessoais do lado. Basearei as indicações na intuição e no critério de autoria, que ainda é o melhor critério (mais que seleções ou premiações em festivais, certamente).

As recomendações estão divididas em três grupos, sendo que o terceiro é mais uma contra-recomendação do que qualquer outra coisa.

Veja de qualquer jeito:

A Mãe e a Puta (La Maman et la Putain, 1973), de Jean Eustache /// Avaliação: 9,5

Meus Pequenos Amores (Mes Petites Amoureuses, 1974), de Jean Eustache /// Avaliação: 9,5

Após a nouvelle vague e seus descaminhos no final da década de 1960, o que se podia fazer para renovar o cinema francês? Eustache deu sua resposta com estes dois longas sublimes, que provavelmente farão sessões memoráveis nesta mostra.

Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha /// Avaliação: 10

Glauber Rocha mostra, para quem quiser aprender, como usar a câmera na mão da maneira mais expressiva possível.

Mar de Rosas (1977), de Ana Carolina /// Avaliação: 9

Das Tripas Coração (1982), de Ana Carolina /// Avaliação: 8,5

Sonho de Valsa (1987), de Ana Carolina /// Avaliação: 8

Muito talentosa, Ana Carolina é mais conhecida por esta trilogia da condição feminina que até hoje se mostra explosiva e cheia de ideias visuais.

A Rainha Diaba (1974), de Antonio Carlos Fontoura /// Avaliação: 8

Um tanto superestimado, mas não podemos correr o risco de subestimá-lo. A revisão atenta pode corrigir um como outro (ou anular tudo que escrevi).

Armageddon Time (2022), de James Gray ///Avaliação: 8,5

A vida é sofrimento e injustiça para onde quer que se olhe. O que se pode fazer a respeito? Filme em tom baixo, mas com seus momentos de beleza e melancolia, além da mão precisa do diretor para as cenas mais fortes (a conversa com o avô no parque e a conversa com o pai no carro).

Até Sexta, Robinson (À Vendredi, Robinson, 2022), de Mitra Farahani /// Avaliação: 8

A correspondência escrita e visual entre um mestre do cinema moderno iraniano, Ebrahim Golestan, e um rebelde da nouvelle vague francesa, Jean-Luc Godard. Óbvio que é imperdível.

Benção (Benediction, 2021), de Terence Davies /// Avaliação: 8,5

Davies retoma o tema de seu filme anterior, Além das Palavras (2016), com o sinal invertido – o biografado é um poeta inglês, não uma poetisa americana, o que muda muitas coisas sendo dois filmes de época. Percebe-se mais uma vez o gosto do cineasta para a poesia cinematográfica, especialmente na pontuação, para a precisão dos enquadramentos e para os documentos históricos.

Boliche Saturno (Bowling Saturne, 2022), de Patricia Mazuy

A diretora do inesquecível Travolta e Eu chega com seu novo longa. Se estiver pouco inspirada, como andaram dizendo, ainda assim tende a ser superior à média do cinema contemporâneo.

Conto de Fadas (Skazka, 2022), de Alexander Sokurov

Sokurov ficou fora de moda após Arca Russa, mas continuou alternando grandes filmes com acertos e erros modestos, embora de modo bem mais espaçado nos últimos dez anos. Seu último longa, Francofonia, é bem bom, o que faz valer arriscar este seguinte.

O Filme da Escritora (2022), de Hong Sang-soo /// Avaliação: 9

O diretor sul-coreano volta ao preto e branco em mais uma história intimista. É sempre o mesmo filme, mas é sempre diferente também.

Noite Exterior pts 1 e 2 (Esterno Notte), de Marco Bellocchio

O grande Bellocchio num filme que retorna ao caso Aldo Moro, assunto do ótimo Bom Dia, Noite (2003). Óbvio que é incontornável, para ver como o diretor volta ao tema de um de seus filmes mais celebrados no século 21.

Restos do Vento (2022), de Tiago Guedes

O editor deste site gostou, e o cinema português tem rendido belos filmes ainda. Vale conferir. Do diretor de A Herdade.

Sem Ursos (2022), de Jafar Panahi

Novo longa do mais talentoso discípulo de Kiarostami. Como sempre faz um discípulo muito talentoso, Panahi soube buscar e, mais importante, trilhar seu próprio caminho.

Veja, se possível:

Aftersun (2022), de Charlotte Wells ///Avaliação: 7,5

Um pai, um mistério. Inatingível, indecifrável, mas um pai que ama a filha. Belo filme de lembranças, num estilo que me pareceu entre o de Joanna Hogg e o de Lucrecia Martel dos dois primeiros filmes.

Agulha no Palheiro (1953), de Alex Viany /// Avaliação: 7

É a história do cinema brasileiro dos anos 1950: tentativa de grande comunicabilidade, algum talento e muita vontade de praticar. É também o filme mais antigo da programação.

Alcarrás (2022), de Carla Simon /// Avaliação: 7

Da diretora catalâ de Verão 1993. Filme agradável, principalmente pelas crianças.

Bocaina (2022), de Fellipe Barbosa e Ana Flávia Cavalcanti

O cinema de Barbosa é irregular, mas sempre dá vontade de ver o que ele dirige. Aqui, em parceria, o que tende a modular um pouco seus impulsos.

Crônica de uma Relação Passageira (Chronique d’une Liaison Passagère, 2022), de Emmanuel Mouret

A intuição me diz que é um filme menor de Mouret, o que o faz descer numa lista. Mas claro que vale ver pois o diretor é talentoso.

O Deus do Cinema (Kinema no Kamisama, 2022), de Yoji Yamada

Nem sempre o veterano Yamada acerta, mas aqui o tema é a paixão pelo cinema, e uma história ficcional. Pode ser um filme no mínimo agradável.

Don Juan (2022), de Serge Bozon

Gosto muito de Mods, de 2003, após o qual Bozon foi se tornando progressivamente um diretor comum. Este é com a grande atriz Virginie Efira e por isso vale conferir.

A Filha do Palhaço (2022), de Pedro Diógenes

Sempre é bom acompanhar o que Diógenes e os demais membros do extinto coletivo Alumbramento andam produzindo.

A Linha (La Ligne, 2022), de Ursula Meier

A recepção morna no exterior não me desanima muito, pois Meier é uma diretora cujos filmes sempre têm algo inventivo.

A Mãe (2022), de Cristiano Burlan

Foi bem recebido em Gramado e Burlan normalmente faz filmes no mínimo interessantes.

Magdala (2022), de Damien Manivel

Nova investida no minimalismo pelo diretor de O Parque. Vale arriscar.

Objetos de Luz (Objectos de Luz, 2022), de Acáriuo de Almeida e Marie Carré

Parece algo já visto inúmeras vezes, mas o português Acácio de Almeida é um dos grandes mestres da direção de fotografia, o que faz o filme ser quase imperdível.

Veja por sua conta e risco:

The Kingdom Exodus (2022), de Lars Von Trier

Série de um realizador que se tornou marqueteiro sem vergonha no século 21. A mostra exibirá só os dois primeiros episódios, como chamariz para a MUBI, que distribui a série. Eu não perderia tempo com tantas outras coisas passando ao mesmo tempo.

Triângulo da Tristeza (Triangle of Sadness, 2022), de Ruben Ostlund

É sempre salutar desconfiar de prêmios em festivais. No caso de Ostlund, melhor é sair correndo. Está em dúvida? Dá uma olhada no cartaz.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

Gostou? Então, leia também críticas de outros filmes e notícias da 46ª Mostra aqui.

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