Continuando o passeio pelas plataformas de streaming em operação no Brasil, chegou a vez do Star+. Predomínio de filmes americanos, mas até que encontramos um bom punhado do século 20. John Ford, mais uma vez, é imbatível. Mas os três que figuram no trigésimo lugar são dignos de grandes elogios.
01. Como Era Verde o Meu Vale (1941), de John Ford
Um filme em preto e branco, indicado numa época em que as pessoas acham filmes dos anos 1990 antigos. Um melodrama, numa época em que muitos usam o termo pejorativamente. É, no entanto, uma obra-prima absoluta do diretor dos diretores. (leia a crítica)
02. Tarde Demais para Esquecer (1957), de Leo McCarey
Faça o teste. Se você conseguir ver este filme e não chorar em momento algum, você tem o coração de pedra. Este longa de Leo McCarey, com Deborah Kerr e Cary Grant é um dos maiores melodramas de todos os tempos.
03. A Outra Face (1997), de John Woo
O tema da identificação entre vilão e herói, uma das marcas de sua carreira em Hong Kong, adquire aqui contornos insanos. O filme todo é de uma demência tão divertida que John Woo se viu obrigado a trabalhar com rédeas mais curtas nos longas americanos seguintes.
04. Olhos de Serpente (1998), de Brian De Palma
+ Missão: Marte (2000)
+ Missão: Impossível (1996)
Um desses raros filmes perfeitos, ou que se aproximam bastante da perfeição. É também o mais característico de seu diretor. Cage precisa deixar de ser afetado para desmascarar uma conspiração que é muito maior que ele.
05. Rio Violento (1960), de Elia Kazan
Quem admira Kazan, como eu, tem este filme em altíssima conta. Quem não gosta do diretor, também. Isto dá uma ideia de sua força. Um drama ecológico nada panfletário.
06. Era Uma Vez na América (1984), de Sergio Leone
Último filme de Leone, faz com o cinema de gangster o mesmo que Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood, faz com o western. Em vez de ver mais uma série genérica, que o assinante veja esta maravilha do cinema. (leia a crítica)
07. Kagemusha – A Lenda de um Samurai (1980), de Akira Kurosawa
Graças à providencial ajuda de Coppola e George Lucas, Kurosawa conseguiu o restante da verba que precisava para filmar este filme mágico e deslumbrante de samurais. Este e Ran (1985) renovaram o público do mestre.
08. Trilogia O Poderoso Chefão (1972, 1974, 1990), de Francis Ford Coppola
Muitos cinéfilos entraram nessa onda de diminuir a trilogia, ou parte dela. A meu ver, são três obras-primas, cada qual com seus acertos. O terceiro aparece no catálogo na versão modificada por Coppola, que quase sabotou seu próprio filme. (leia a crítica de O Poderoso Chefão e O Poderoso Chefão 3)
09. Fogo Contra Fogo (1995), de Michael Mann
A obra-prima de Mann mostra um duelo de forças entre Al Pacino e Robert De Niro, em que o policial interpretado pelo primeiro precisa modular sua interpretação para capturar o ladrão vivido pelo segundo.
10. O Rei da Comédia (1983), de Martin Scorsese
+ A Cor do Dinheiro (1986)
+ Vivendo no Limite (1999)
Três grandes filmes de Scorsese que trazem três ótimas interpretações de seus protagonistas. Nos dois primeiros, esse protagonismo é dividido entre um ator veterano e um novato. E todos estão excelentes. (leia a crítica)
11. Duro de Matar (1988), de John McTiernan
Um dos maiores filmes de ação de todos os tempos e o cartão de visitas de McTiernan. Há outros bons filmes da série na plataforma, mas só este tem cacife para estar entre os grandes.
12. Tropas Estelares (1997), de Paul Verhoeven
Filme extraordinário, injustamente tido como fascista, belicista, militarista, por quem não percebeu que se trata de uma das críticas mais contundentes ao imperialismo capitalista globalizado que se afirmou dos anos 1980 em diante. (leia a crítica)
13. A Mosca (1986), de David Cronenberg
O filme mais comercial de Cronenberg é também um dos melhores que realizou. A transformação minuciosa de Jeff Goldblum causou grande comoção na época.
14. Operação França (1971), de William Friedkin
Gene Hackman perseguindo Fernando Rey no metrô de Nova York é um dos maiores momentos do cinema policial. Friedkin conquistava Hollywood e preparava o terreno para O Exorcista.
15. O Pecado Mora ao Lado (1955), de Billy Wilder
Truffaut mostrou muito bem como Wilder fez um filme praticamente pornográfico, com vasos, garrafas e outros motivos sacanas na trama de um homem casado que faz de tudo para impressionar a vizinha.
16. The Sunchaser (1996), de Michael Cimino
O título nacional é Na Trilha do Sol, mas o filme está no catálogo por seu título original. De todo modo vale ver este grande filme de Cimino, um dos maiores de sua geração.
17. Fim dos Tempos (2008), de M. Night Shyamalan
+ Corpo Fechado (2000)
Dois dos maiores filmes de Shyamalan estão no catálogo da Star+. Faltaram A Vila e Batem à Porta para completar o quarteto maior do diretor. Fim dos Tempos é também um dos filmes mais odiados dele. Assista para descobrir de que lado está.
18. Ad Astra (2019), de James Gray
Gray trabalhando com grande orçamento e menor liberdade. O resultado saiu muito bom, mas serviu para o diretor reavaliar seu percurso e dar um passo para trás, estrategicamente. (leia a crítica)
19. Desafio à Corrupção (1961), de Robert Rossen
Scorsese parte deste filme, do drama de seu protagonista, para fazer A Cor do Dinheiro, com o qual faria uma linda sessão dupla. Paul Newman interpreta o mesmo personagem, muitos anos antes.
20. Ed Wood (1994), de Tim Burton
Não é exagero considerar este o maior filme de Burton. Johnny Depp está excelente, como no outro postulante, Edward Mãos de Tesoura. O preto e branco reforça o aspecto de homenagem ao rei do filme Z.
21. Conan, o Bárbaro (1982), de John Milius
Sim, o diretor é de direita, e o filme também. Saber admirar algo contrário ao que pensamos é uma obrigação, a meu ver. E a direção de Milius, seu senso de aventura, garantem nosso prazer.
22. Evita (1996), de Alan Parker
Hoje é possível ver este belo musical sem o preconceito que os cinéfilos tinham na época, contra Madonna e Alan Parker, principalmente, mas também com musicais (o que continua) e com uma protagonista argentina vivida por uma norte-americana.
23. Torrente de Paixão (1953), de Henry Hathaway
Suspense nas cataratas do Niagara, com Marilyn Monroe já caminhando para o merecido estrelato e Hathaway com uma direção inspirada.
24. Hoffa (1992), de Danny DeVito
+ A Guerra dos Roses (1989)
Os dois melhores filmes do talentoso diretor DeVito, com performances brilhantes de Jack Nicholson, em Hoffa, e de Michael Douglas e Kathleen Turner em Guerra dos Roses. DeVito acerta sobretudo no ritmo, mais cadenciado no primeiro, insano em partes do segundo.
25. O Veredito (1982), de Sidney Lumet
Novamente um filme protagonizado por Paul Newman, de um diretor que fez ao menos dois grandes filmes em cada década em que trabalhou.
26. O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee
O filme que perdeu o Oscar para a bomba chamada Crash, de Paul Haggis, numa das maiores aberrações da história da premiação.
27. The Post: A Guerra Secreta (2017), de Steven Spielberg
Um dos melhores filmes sérios de Spielberg e um encontro mágico entre Tom Hanks e Meryl Streep. Lição de jornalismo e crítica. (leia a crítica)
28. A Última Noite (2002), de Spike Lee
Os grandes filmes antirracistas de Lee estão ausentes da plataforma, mas dá para se encantar com o talento do diretor neste brilhante longa sobre as últimas horas de um traficante que vai para a cadeia.
29. Inimigo Meu (1985), de Wolfgang Petersen
Filme bem subestimado do talentoso Petersen, de um momento em que a ficção científica era um gênero predominante e se abria a tratamentos menos óbvios.
30. Quem Vai Ficar com Mary? (1998), de Peter & Bobby Farrelly
+ O Amor é Cego (2001)
+ Amor em Jogo (2005)
O primeiro inaugura a grande fase do cinema desses irmãos que revolucionaram a comédia americana nos anos 1990. O terceiro encerra essa grande fase. No meio, um de seus filmes mais paradigmáticos. Veja os três que o arrependimento é difícil.
Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.