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Continuações melhores que os originais | Por Sérgio Alpendre

Continuações melhores que os originais por Sérgio Alpendre
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Não é novidade esta lista (qual seria, afinal?). Mas por que toda lista desse tipo tem de contar obrigatoriamente com O Poderoso Chefão Parte 2? Sim, o segundo longa é mesmo uma obra-prima, mas o primeiro também era. Já Gremlins II tem frequentado mais esse tipo de lista. Lembro que quando foi lançado a ideia de que fosse melhor que o primeiro parecia absurda, mesmo aos que se entusiasmaram com a continuação imaginada por Dante.

Outra unanimidade é Exterminador do Futuro 2. Bom, não aqui. Não que seja um mau filme. Longe disso. Mas é que o primeiro me parece ainda mais forte, menos dependente de efeitos especiais e do carisma de Arnold Schwarzenegger.

Na pesquisa para esta lista, deparei-me com uma da Variety que coloca Rambo II: A Missão como melhor que o primeiro. Aí já é caso de avaliação com um oftalmologista, por mais que o segundo longa com o herói tenha sido reavaliado como uma produção mais rica do que dava conta sua superfície de “reaganite entertainment”, segundo o termo usado por Robin Wood, e por mais que muitas dessas listas coloquem as melhores sequências mesmo que não sejam superiores aos filmes originais.

A regra para entrar nesta lista então é clara: só valem continuações melhores do que seus originais, e serão só considerados originais que valem alguma coisa. A inspiração, em contraposição, veio com Resgate 2, longa recém-lançado pela Netflix e que pode, vá lá, ser considerado um pouco melhor que o primeiro. Mas isso não vale muito nesse caso. Ou seja, o filme que originou a sequência precisava ser minimamente bom.

Vamos à lista. É bem provável que eu tenha esquecido de alguma. Desta vez, a ordem é cronológica.

A Noiva de Frankenstein (The Bride of Frankenstein, 1935), de James Whale

         continuação de Frankenstein (1933), de James Whale

Após introduzir a trama de Mary Shelley no primeiro filme (que é melhor do que se costuma dizer), Whale realiza a obra-prima de todo o ciclo de horror da Universal nos anos 1930. Uma pérola de poesia e encanto que eleva consideravelmente a carreira de seu diretor. Elsa Lanchester está sublime como a noiva do título.

Ben, o Rato Assassino (Ben, 1972), de Phil Karlson

         continuação de Calafrio (Willard, 1971), de Daniel Mann

O primeiro longa quase impede que sua continuação esteja aqui. Isto porque passou raspando no limite de qualidade. De todos os originais elencados, só Star Wars correu o risco de desclassificar suas continuações. De todo modo, é um dos filmes que ilustram perfeitamente a teoria dos autores. Ben, O Rato Assassino é melhor porque Karlson é um diretor superior a Daniel Mann.

O Império Contra-Ataca (The Empire Strikes Back, 1980), de Irvin Kershner
O Retorno de Jedi (The Return of Jedi, 1983), de Richard Marquand
A Vingança dos Sith (Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith, 2005), de George Lucas

         continuações de Star Wars (1977), de George Lucas

O primeiro Star Wars marcou época e significou um renascimento para a Hollywood fábrica de sonhos. O segundo e o terceiro fortaleceram ainda mais a franquia com direções superiores que a de Lucas. Ele volta a dirigir na segunda trilogia, e consegue emplacar ao menos uma continuação que é melhor que o filme de 1977, muito por causa de seu teor sombrio.

Superman II (1980), de Richard Lester

         continuação de Superman (1978), de Richard Donner

Por mais controversa que tenha sido a substituição de Donner por Lester, o fato é que, personagem já apresentado e as novas audiências familiarizadas com essa nova roupagem do herói, foi mais fácil se concentrar na trama com o trio de inimigos que irá se contrapor ao Homem de Aço. Liderados por um irresistível Terence Stamp e com o auxílio precioso de um Gene Hackman ainda mais inspirado, este segundo longa se tornou inesquecível.

Mad Max 2: A Caçada Continua (The Road Warrior, 1981), de George Miller
Mad Max: Estrada da Fúria (Mad Max: Fury Road, 2015), de George Miller

         continuações de Mad Max (1979), de George Miller

O primeiro Mad Max tinha lá seu charme, mas era perceptível uma camada de gordura que deixava o todo meio travado, sem ritmo. É o que não acontece com o segundo longa, tampouco com o quarto. Este provavelmente é o melhor de toda a série, e não é bem uma continuação dos personagens, mas temática. O segundo, Mad Max Além da Cúpula do Trovão (1985), com Tina Turner, é bem melhor que o habitualmente considerado, e talvez merecesse estar aqui também.

A Cor do Dinheiro (The Color of Money, 1986), de Martin Scorsese

         continuação de Desafio à Corrupção (The Hustler, 1961), de Robert Rossen

Mais uma continuação temática do que da trama, esta volta do personagem Fast Eddie Felson valeu um Oscar para Paul Newman, que é muito melhor ator em 1986 do que era em 1961. Aqui ele encontra um jovem talentoso e arrogante que o impele a voltar a jogar, algo que ele havia prometido nunca mais fazer. Sou dos raros cinéfilos que preferem o filme de Scorsese, mas também sou dos muitos que admiram os dois longas.

Indiana Jones e a Última Cruzada (Indiana Jones and the Last Crusade, 1989), de Steven Spielberg

         continuação de Os Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the Lost Ark, 1981), de Steven Spielberg

Se a primeira continuação, O Templo da Perdição, era boa, mas falhava em superar o longa original, esta segunda é a que melhor se insere no tema da ausência do pai tão caro a Spielberg. Por esse motivo, mas também pela trama inteligente e pela presença de Sean Connery, é o melhor de toda a série.

Gremlins 2 (Gremlins II: A New Batch, 1990), de Joe Dante

         continuação de Gremlins (1984), de Joe Dante

Nos anos 1980, qualquer continuação que se preze surgiria dois ou três anos depois do original, no máximo. A demora, neste caso, deveu-se ao critério de Joe Dante, que não gostava dos roteiros que lhe eram apresentados. Ele só topou fazer o segundo se tivesse liberdade total. Vimos então o que esse tipo de diretor pode fazer com tamanha liberdade. O primeiro já era um estouro. Este segundo é uma demolição da indústria de entretenimento.

Batman: O Retorno (Batman Returns, 1992), de Tim Burton

         continuação de Batman (1989), de Tim Burton

Não sou dos que consideram este longa muito superior ao primeiro (que, por sinal, revela-se hoje um filme mais cheio de camadas do que me pareceu à época), mas de fato é neste retorno que Burton chega ao máximo que o herói chegou no cinema até aqui. O recente Batman de Matt Reeves surpreende, mas ainda perde para o de Burton.

Um Tira da Pesada III (Beverly Hills Cop III, 1994), de John Landis

         continuação de Um Tira da Pesada (Beverly Hills Cop, 1984), de Martin Brest

O talento de Eddie Murphy compensa a afetação de Tony Scott no segundo longa da franquia, mas é este terceiro, de Landis, que encontra o astro em seu melhor.

Babe: O Porquinho Atrapalhado na Cidade (Babe: Pig in the City, 1998), de George Miller

         continuação de Babe, o Porquinho Atrapalhado (Babe, 1995), de Chris Noonan

O primeiro filme de Babe, o porquinho, já era bem decente. O segundo, ligado no turbo e com um diretor mais tarimbado, tornou-se um dos mais belos blockbusters daquele final de década.

Homem-Aranha 2 (Spider-Man 2, 2004), de Sam Raimi

         continuação de Homem-Aranha (Spider-Man, 2002), de Sam Raimi

Das três franquias com o herói aracnídeo, cada qual vivida por um ator, é sensível a superioridade da que Sam Raimi dirigiu, com Tobey Maguire de protagonista. Mesmo o terceiro longa, sendo o mais fraco dessa trilogia, tinha inúmeras qualidades, mostrando a boa mão de Raimi para o blockbuster. Este segundo provavelmente jamais será superado.

Antes do Pôr-do-Sol (Before Sunset, 2004), de Richard Linklater

         continuação de Antes do Amanhecer (Before Sunrise, 1995), de Richard Linklater

Claramente superior ao primeiro, Antes do Amanhecer, e mais ainda ao terceiro, Antes da Meia-Noite, este segundo encontro entre Ethan Hawke e Julie Delpy flagrado por Richard Linklater tem um dos finais mais charmosos dos últimos anos, graças à dancinha de Delpy e ao sorriso de Hawke assumindo que irá perder o voo.

Eleição 2 (Hak se Wui: Yi Woo Wai Kwai, 2006), de Johnnie To

         continuação de Eleição (Hak se Wui, 2005), de Johnnie To

Um dos maiores diretores de Honk Kong em todos os tempos, Johnnie To produz e dirige tantos filmes que quando faz um só bom (Eleição), pode já no ano seguinte fazer a continuação e arrebentar.  

Invocação do Mal 2 (The Conjuring 2, 2016), de James Wan

         continuação de Invocação do Mal (The Conjuring, 2013), de James Wan

Díptico muito superior ao outro de Wan, Sobrenatural, este Invocação do Mal 2 é um dos grandes filmes de horror americano deste século. Impressionante como funciona bem a química entre Vera Farmiga e Patrick Wilson.

John Wick: Um Novo Dia Para Matar (John Wick Chapter 2, 2017), de Chad Stahelski
John Wick 3: Parabellum (John Wick Chapter 3: Parabellum, 2019), de Chad Stahelski
John Wick 4: Baba Yaga (John Wick: Chapter 4, 2023), de Chad Stahelski

         continuações de De Volta ao Jogo (John Wick, 2014), de Chad Stahelski e David Leitch

Não seria exagero dizer que este é um raro caso (ou o único) em que cada longa supera o anterior. Podemos ter alguma dúvida com relação ao segundo e ao terceiro, já que se equivalem em insanidade e habilidade nas cenas de ação. O que não dá para negar é a evolução na direção de Chad Stahelski, que no 4º longa finalmente vislumbra o nível de Buster Keaton.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

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