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Os 20 melhores filmes de 2022 | Por Sérgio Alpendre

Os 20 melhores filmes de 2022 | Por Sérgio Alpendre
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2022 pode ser considerado especial por ser o ano em que os espectadores voltaram mesmo às salas de cinema. Isto não quer dizer que o esvaziamento dessas salas, iniciado em 2018 e 2019, tenha sido revertido. Ele continua inclemente, como castigo para distribuições e programações equivocadas.

Se saímos do zero de abril a dezembro de 2020 para alguns poucos corajosos em 2021, isto se deveu à vacinação e à crença de que o pior da pandemia já passou. Ou seja, mais fácil driblar a pandemia do que o preço dos ingressos e a má distribuição do circuito comercial.

De todo modo, voltou a fazer sentido, neste 2022, fazer uma lista de melhores filmes do ano, já incorporando, a exemplo do comumente feito no ano passado, as estreias do streaming. Tivemos, enfim, um ano inteiro de possibilidade de frequentar os cinemas.

Os destaques

O cinema italiano matou a pau e conquistou primeira e terceira posições com, respectivamente, um novato (Frammartino) e um veterano (Bellocchio). No meio do caminho etário, um outro veterano, ainda que de geração posterior a de Bellocchio, conquista a nona posição: Nanni Moretti.

A segunda posição é ocupada por um português que era para ter estreado há três anos, Pedro Costa, acompanhado de seus conterrâneos Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro, realizadores do curioso filme de pandemia que ocupa a 15ª posição.

O cinema japonês é representado por Kiyoshi Kurosawa, o melhor diretor dessa cinematografia desde os anos 1990, e, indiretamente, por Onoda.

Mas os asiáticos estariam mais bem representados se os dois melhores de Hong Sang-soo, In Front of Your Face e O Filme da Escritora, estreassem no lugar dos “só” bons A Mulher que Fugiu e Encontros.

Devo confessar, contudo, que eles não perdem nada para os últimos colocados da lista, ao menos na frieza das cotações. No critério de desempate, que vai desde a expectativa até o maior tempo entre minha visão e a confecção da lista, ficaram de fora, junto de outros igualmente cotados. Não podemos esquecer a presença de Apichatpong Weerasethakul, apesar de seu filme ser mais colombiano que tailandês.

No cinema americano, o maior autor contemporâneo, Clint Eastwood, não teve filme no ano. Entra então o segundo maior autor atual, James Gray. Entram também, dentro da representação americana, o normalmente superestimado Paul Thomas Anderson, o insosso Mark Mylod, diretor do terrível Quem é Morto Sempre Aparece (2005) que aparece com um filme surpreendente, e o novo autor, Jordan Peele. Por fim, Martin Campbell completa o time com um de seus melhores divertimentos.

O cinema brasileiro

Na minha lista, contudo, noto um problema: uma quase ausência de filmes brasileiros. Os dois presentes estão entre as três últimas posições, o que mudaria se Capitu e o Capítulo tivesse estreado em 2022, como prometido no começo do ano passado. Entraria provavelmente na quinta posição. Talvez eu tenha visto menos filmes brasileiros que em anos passados, mas penso que o problema esteja mesmo numa certa entressafra. Vi todos os filmes que estão aparecendo nas listas de melhores de outros críticos e publicações e, francamente, acho que só teriam lugar entre os vinte melhores desta lista se eu trapaceasse, o que jamais farei.

Os 20 melhores filmes de 2022

01. Il Buco (2022), de Michelangelo Frammartino

Um arranha-céu em Milão e uma caverna que se abre em direção ao centro da terra fazem o jogo de opostos deste filme, o melhor de Frammartino até aqui, o que não é pouco.

02. Vitalina Varela (2019), de Pedro Costa

O claro-escuro sem igual de Pedro Costa numa trama de enganos e desprezos. Filme de 2019 que teve sua estreia atrasada por causa da pandemia. Está certo: deve ser visto no cinema. Mas a poética de Costa resiste muito bem em telas pequenas (de notebook para cima, claro).

03. O Traidor (Il Traditore, 2020), de Marco Bellocchio

É incrível o que Bellocchio consegue fazer mesmo com as tramas mais convencionais. Um carro que explode, uma acareação, um olhar e um movimento podem congelar nossos olhares pela precisão com que são vistos na tela. Seus filmes são o primado da forma e da ideia de que um grande diretor enriquece qualquer narrativa.

04. A Mulher de um Espião (Supai no Tsuma, 2020), de Kiyoshi Kurosawa

Na mesma linha de O Traidor, Kiyoshi Kurosawa trabalha com uma precisão sem igual no desenrolar da trama. Seu thriller tem classe e modernidade, comprovando que o autor pode se movimentar em diversos registros.

05. Armageddon Time (2022), de James Gray

Filme em tom menor, com muitos aspectos autobiográficos e uma série de observações políticas que estão muito acima do habitual panfletário do cinema democrata americano. Envelhecer é descobrir a injustiça do mundo.

06. Benedetta (2021), de Paul Verhoeven

Verhoeven não é o mesmo de Showgirls ou Tropas Estelares. Nem mesmo o mais classudo de A Espiã se faz notar em Benedetta. Mas há uma clara evolução em relação a Elle, o que me deixa mais esperançoso de um verdadeiro retorno à forma num futuro próximo.

07. Onoda – 10 Mil Noites na Selva (Onoda, 10.000 Nuits dans la Jungle, 2021), de Arthur Harari

Um filme que se apresentava como uma incógnita conceitual revela-se a grande surpresa do ano. Mostra o tempo e a calma da espera, o desespero e a devoção da subserviência.

08. Crimes do Futuro (Crimes of the Future, 2022), de David Cronenberg

Cirurgia como o novo sexo, perfurações e mutações como signos da pós-modernidade. Outro filme que se aproxima de um retorno à grande forma de seu diretor. À exemplo de Verhoeven, Cronenberg chegou perto disso.

09. Tre Piani (2021), de Nanni Moretti

Moretti se dá muito bem num dos truques narrativos mais sucateados do cinema contemporâneo: o das histórias que se cruzam. Prova de que não é o procedimento que é necessariamente ruim, mas a maneira como é usado.

10. Licorice Pizza (2021), de Paul Thomas Anderson

Ao buscar um tema mais singelo e suavizar o enredo ao máximo para trabalhar com as doces lembranças juvenis, Paul Thomas Anderson realiza seu melhor filme.

11. Mães Paralelas (Madres Paralelas, 2021), de Pedro Almodóvar

Almodóvar é irregular, mas quando acerta, é capaz de grandes melodramas, como este, injustamente massacrado por cinéfilos e cinéfilas progressistas que detestam cinema. Sim, eles existem.

12. Memória (2021), de Apichatpong Weerasethakul

Aprender a ouvir. Um filme bipartido: quase uma obra-prima na primeira parte, apenas razoável na segunda.

13. Klondike: A Guerra na Ucrânia (2022), de Maryna Er Gorbash

Entre Larisa Shepitko e Béla Tarr move-se Maryna Er Bashar, a talentosa realizadora deste libelo contra as guerras. O mais forte de seu filme não é a política, mas a composição visual, o que acaba por fortalecer o lado político.

14. Fabian – O Mundo Está Acabando (Fabian oder Der Gang vor die Hunde, 2021), de Dominik Graff

Uma forma suja, inicialmente repulsiva, mas trabalhada com talento contagiante.

15. Diários de Otsoga (2021), de Miguel Gomes e Maureen Fazendeiro

Um filme que se desenvolve de maneira curiosa, revelando aos poucos o seu caráter de produção.

16. Assassino sem Rastro (Memory, 2022), de Martin Campbell

Martin Campbell consegue transformar o que seria apenas um divertido veículo tortuoso para Liam Neeson em um elegante policial sobre pedofilia, preconceito, corrupção policial, competência e memória, com desenvolvimento bem inteligente e ao menos um ponto inesperado, hitchcockiano.

17. Não, Não Olhe (Nope, 2022), de Jordan Peele

Comportamentos estranhos e um monstro de papel crepon. Peele contorna bem suas limitações e realiza seu melhor filme até aqui.

18. Os Primeiros Soldados (2021), de Rodrigo de Oliveira

Cresce muito na segunda metade, principalmente pelas interpretações de Johnny Massaro e Renata Carvalho. Gosto particularmente da estrutura, porque vai para o flashback passando antes pelo found footage.

19. O Menu (The Menu, 2022), de Mark Mylod

Um menu cinematográfico surpresa que coloca certos arrivistas e o pessoal “do mercado” em seu devido lugar.

20. A Mãe (2022), de Cristiano Burlan

Homens que abusam do poder da farda para executar pobres na periferia das grandes cidades. Filme que ultrapassa a denúncia, com uma meia hora de antologia e um travelling mizoguchiano.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.

Nota do editor:

A classificação na crítica publicada no site não bate com a escolha do autor dessa lista? Então, provavelmente o autor da crítica é outra pessoa. E cada um tem sua opinião pessoal. Aliás, gostou da lista? Publicamos um post sobre o texto em nosso perfil no Facebook e no Instagram. Assim, aproveite para expor ali as suas escolhas de melhores filmes de 2022!

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