O Oscar 2022 começou às 17h de Los Angeles (20h de Brasília) no tradicional Dolby Theater. A 94ª edição do Oscar da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas voltou a ter seus hosts. Neste ano, a apresentação ficou por conta de Regina Hall, Amy Schumer e Wanda Sykes.
Amy Schumer mostrou seu humor picante, ousado até, mexendo com as celebridades da indústria. Wanda Sykes fez uma da piores e mais longas piadas da noite, brincando que teria que levar alguns dos atores bonitões para os bastidores e fazer um teste de Covid-19 com sua língua. Regina Hall realizou um tour humorístico pelo novo Museu da Academia, em Los Angeles. As apresentadoras retornaram em outros momentos, mas nada especiais.
Desta vez, para que a cerimônia tivesse uma duração menor, os vencedores de oito categorias receberam seus prêmios uma hora antes do evento. São eles: Melhor Documentário de Curta-metragem, Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Cabelo, , Melhor Trilha Sonora, Melhor Desenho de Produção, Melhor Curta de Animação, Melhor Curta em Live Action, Melhor Som. Por isso, não vimos o protocolo tradicional dos prêmios dessas categorias, apenas o anúncio dos indicados, o vencedor e um rápido discurso.
Música e emoção
A abertura aconteceu com a apresentação de Beyoncé interpretando “Be Alive”, canção indicada pelo filme “King Richard: Criando Campeãs“, em um ambiente externo. Então, começaram as revelações dos vencedores. A primeira premiada foi a favorita Ariana DeBose, que levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante por “Amor, Sublime Amor”.
Um dos pontos altos foi o clipe comemorativo aos 60 anos de James Bond, com uma bela montagem de momentos icônicos do espião inglês. Quem sabe, a Academia não coloca o clipe em seu canal no Youtube, para revermos.
Sebastián Yatra cantou a música “Dos Oruguitas”, e logo em seguida, o filme dessa canção, Encanto, ganhou o prêmio de melhor longa de animação. Reba McEntire apresentou “Somehow You Do” do longa inédito no Brasil “Four Good Days”. Nillie Eilish e FINNEAS subiram ao palco para tocar “No Time to Die”, tema do filme de James Bond. O sucesso de “We Don’t Talk About Bruno”, de “Encanto”, levou a Academia a incluir uma apresentação ao vivo na cerimônia, mesmo que a canção não concorra ao Oscar. Na verdade, essa canção preencheu o espaço de “Down to Joy”, de “Belfast“, que não foi apresentada por algum problema com seu compositor e intérprete Van Morrison.
Mas, o primeiro momento realmente emocionante para todos foi a vitória e o discurso do ator coadjuvante Troy Kotsur, do filme “No Ritmo do Coração“. Kotsur, surdo-mudo, dedicou o prêmio à sua comunidade. Assim, comunicou-se com a linguagem dos sinais, que foi traduzida por um intérprete do evento.
Inclusão e politica
O já veterano ator e diretor Kenneth Branagh, depois de sete indicações que não vingaram, ganhou seu primeiro Oscar, pela autoria do roteiro original de “Belfast“. Já o prêmio de melhor roteiro adaptado foi para “No Ritmo do Coração“, também escrito pelo responsável pela direção, a estadunidense Sian Heder. Este foi outro momento importante de inclusão, pois Heder, coerente com o tema de seu filme, levou uma intérprete de linguagem de sinais para traduzir seu discurso no palco.
A Academia, sempre ativa politicamente, desta vez exaltou a defesa globalizada dos direitos dos ucranianos, num protesto contra a invasão da Rússia ao país. A hashtag para essas manifestações é: #standwithukraine. A Ucrânia também recebeu apoio de Francis Ford Coppola, que subiu ao palco ao lado de Robert De Niro e Al Pacino, em comemoração aos 50 anos de “O Poderoso Chefão“. Outros artistas que trabalharam juntos em um filme histórico também comemoraram uma breve reunião. Por exemplo, John Travolta, Uma Thurman e Samuel L. Jackson, de “Pulp Fiction“ apresentaram juntos um dos premiados da noite.
Neste ano, a sessão “In Memoriam” inovou ao homenagear três dos falecidos no ano passado – Sidney Poitier, Ivan Reitman e Betty White. Cada um deles recebeu uma breve fala ao vivo de um artista conectado com sua vida e obra. Mas, levanta a questão: e os outros, não merecem o mesmo privilégio?
Agressão de Will Smith
As piadas provocativas, que os apresentadores costumam fazer na cerimônia do Oscar, podem ofender. Geralmente, o ofendido engole e finge achar graça. Nessa noite, não foi o que aconteceu com Will Smith. Após Chris Rock fazer piada com o problema de queda de cabelos de sua esposa Jada Pinkett Smith, que a impediu de obter um papel em “G.I. Joe”, Smith saiu de sua poltrona e deu um tapa em Rock. Tão inusitado foi o momento que parecia encenação. Porém, Smith voltou ao seu lugar e continuou gritando para o comediante: “Deixe minha esposa fora da p… da sua boca”). Seu ar enfurecido não deixou dúvidas de que ele realmente perdeu o controle com a piada de mau gosto.
Logo depois, Will Smith recebeu seu primeiro Oscar da carreira, como ator por King Richard: Criando Campeãs. Com isso, pôde fazer seu discurso longo (não interrompido) e emocionado sobre essa noite especial. Agradeceu e desculpou-se à Academia. Mas, com certeza, o incidente mudará o tipo de piadas do Oscar daqui para frente. Aliás, isso já provocou mudanças nessa própria cerimônia, pois quando Amy Schummer voltou a apreentar, no meio da plateia, ela estava cheia de dedos.
Favoritos
“Drive My Car“, do Japão, confirmou seu favoritismo e levou o Oscar de melhor filme internacional. Assim como outros favoritos o fizeram. Após uma longa introdução de Kevin Costner, o ator e diretor anunciou Jane Campion como a melhor diretora por “Ataque dos Cães“. É apenas a terceira diretora a levar esse prêmio na história da Academia. Jessica Chastain (foto) também confirmou as apostas como melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye“, numa atuação brilhante num filme apenas razoável.
Em quantidade de estatuetas, a megaprodução “Duna” foi grande vencedor da cerimônia, com seis prêmios. Porém, ganhou apenas nas categorias técnicas, como costuma acontecer com produções do gênero ficção-científica. No entanto, o prêmio mais importante, o Oscar de melhor filme, foi para “No Ritmo do Coração“, o que poderia ser uma surpresa há um mês atrás (ou poderá ser talvez daqui a uns três anos). É um filme emocionante, mas não uma obra que mereça o prêmio de melhor longa do ano.Mas, acima de tudo, traz uma mensagem inclusiva e positiva, o que possui uma ressonância muito forte em tempos agressivos como vivemos hoje. Aliás, outros filmes também trazem essa questão: “Drive My Car” e “Audible“. Defintivamente, o tema da inclusão deste ano não foi tanto racial, como apostou Steven Spielberg com “Amor, Sublime Amor“, mas em reação aos portadores de necessidades especiais.
Anthony Hopkins surgiu poderoso como vencedor do Oscar do ano passado para anunciar a atriz vencedora. Com 83 anos, foi reverenciado de pé, respeitado como um dos maiores de sua profissão. Por outro lado, Liza Minnelli, com 74 anos, mas numa cadeira de rodas e com a saúde fragilizada, aparentando desorientação, precisou da ajuda de Lady Gaga para anunciar o filme vencedor.
Oscar 2022: lições
A cerimônia do Oscar 2022 serviu para alerta para reavaliar alguns aspectos do evento. Um deles, é a quantidade de indicados a melhor filme. Afinal, dos dez deste ano, talvez só três sejam filmes extraordinários. E, se há a preocupação de reduzir a duração da cerimônia, ter dez indicados significa apresentar dez clipes dessa categoria. Um outro aspecto, esse recorrente há vários anos, refere-se a trazer artistas, novos ou antigos, com a condição de saúde abalada (neste ano, tivemos o caso de Liza Minnelli). Ao invés, de homenagear, o Oscar acaba por expô-los indelicadamente.
Porém, mais importante de tudo, já chega de piadas provocativas que podem ofender. Já passou o tempo disso e elas entram em choque com os discursos politicamente corretos dos premiados, que trazem mensagem positivas que merecem ser repercutidas. Por fim, quanto à transmissão local brasileira, por conta da TNT, a inclusão de uma dupla de comentarista ao final de cada bloco foi desnecessária, com algumas informações incorretas, e ainda provocou a perda de alguns momentos ao vivo da cerimônia.
Veja abaixo a lista dos vencedores do Oscar 2022.
Melhor filme
VENCEDOR: “No Ritmo do Coração“
“Belfast“
“Duna“
“King Richard: Criando Campeãs“
Melhor direção
VENCEDORA: Jane Campion – “Ataque dos Cães“
Kenneth Branagh – “Belfast“
Ryusuke Hamaguchi – “Drive My Car“
Steven Spielberg – “Amor, Sublime Amor“
Paul Thomas Anderson – “Licorice Pizza“
Melhor atriz
VENCEDORA: Jessica Chastain – “Os Olhos de Tammy Faye“
Olivia Colman – “A Filha Perdida“
Penélope Cruz – “Mães Paralelas“
Nicole Kidman – “Apresentando os Ricardos“
Kirsten Stewart – “Spencer“
Melhor ator
VENCEDOR: Will Smith – “King Richard: Criando Campeãs“
Javier Bardem – “Apresentando os Ricardos“
Benedict Cumberbatch – “Ataque dos Cães“
Andrew Garfield – “Tick, Tick… Boom!“
Denzel Washington – “A Tragédia de Macbeth“
Melhor atriz coadjuvante
VENCEDORA: Ariana DeBose – “Amor, Sublime Amor”
Jessie Buckley – “A Filha Perdida“
Judi Dench – “Belfast“
Kirsten Dunst – “Ataque dos Cães“
Aunjanue Ellis – “King Richard: Criando Campeãs“
Melhor ator coadjuvante
VENCEDOR: Troy Kotsur – “No Ritmo do Coração“
Ciarán Hinds – “Belfast“
Jesse Plemons – “Ataque dos Cães“
J.K. Simmons – “Apresentando os Ricardos“
Kodi Smit-McPhee – “Ataque dos Cães“
Melhor filme internacional
VENCEDOR: “Drive My Car” – Japão
“Flee” – Dinamarca
“A Mão de Deus” – Itália
“A Felicidade das Pequenas Coisas” – Butão
“A Pior Pessoa do Mundo” – Noruega
Melhor roteiro adaptado
VENCEDOR: “No Ritmo do Coração” (Sian Heder)
“Duna“
Melhor roteiro original
VENCEDOR: “Belfast” (Kenneth Branagh)
“King Richard: Criando Campeãs“
Melhor figurino
VENCEDOR: “Cruella”
“Cyrano“
“Duna“
Melhor animação
VENCEDOR: “Encanto”
“Flee“
“Luca”
“A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas”
“Raya e o Último Dragão”
Melhor documentário
VENCEDOR: “Summer of Soul (…ou Quando A Revolução Não Pôde Ser Televisionada)“
“Ascension”
“Attica”
“Flee“
“Writing with Fire”
Canção original
VENCEDOR: “No Time to Die” – “Sem Tempo para Morrer“
“Be Alive” – “King Richard: Criando Campeãs“
“Dos Oruguitas” – “Encanto”
“Down To Joy” – “Belfast“
“Somehow You Do” – “Four Good Days”
Efeitos visuais
VENCEDOR: “Duna“
“Free guy“
“Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”
“Homem-Aranha: Sem Volta para Casa“
Melhor fotografia
VENCEDOR: “Duna” (Greig Fraser)
Melhor documentário de curta-metragem
VENCEDOR: “The Queen of Basketball”
“Audible“
“When We Were Bullies”
Melhor edição
DIREÇÃO: “Duna” (Joe Walker)
“King Richard: Criando Campeãs“
Maquiagem e cabelo
VENCEDOR: “Os Olhos de Tammy Faye“
“Cruella”
“Duna“
Melhor trilha sonora
VENCEDOR: “Duna“
“Encanto”
Melhor design de produção
VENCEDOR: “Duna“
Melhor curta de animação
VENCEDOR: “The Windshield Wiper”
“Affairs of the Art”
“Bestia”
“Boxballet”
“A Sabiá Sabiazinha”
Melhor curta-metragem em live action
VENCEDOR: “The Long Goodbye”
“Ala kachuu – Take and Run”
“The Dress”
“On My Mind”
“Please Hold”
Melhor som
VENCEDOR: “Duna“
“Belfast“
(foto: Canvas)