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Filmes vencedores do Oscar, do melhor ao pior | Por Sérgio Alpendre

Filmes vencedores do Oscar - do melhor ao pior
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A história do Oscar é feita de muitas injustiças. Não é raro um ano em que o pior dos filmes indicados é o maior premiado, e não é raro termos várias opções melhores entre os filmes que não receberam indicação alguma. O grande problema é que cada um tem seus injustiçados de cabeceira, em anos diferentes e posições diferentes. Logo, esta lista dos vencedores do Oscar, do melhor ao pior, foi ordenada seguindo fatores subjetivos, que podem variar dependendo do dia.

O trabalho de ordenação dos 94 premiados com o Oscar de melhor filme, seja pelo gosto, por ordem alfabética ou cronológica, ou mesmo por qualquer outra ordem mais objetiva, é um exercício mental. Portanto, não vejo como possa ser infrutífero, por mais que pareça também um exercício de exibicionismo e, talvez, masoquismo (como ordenar os dez primeiros da lista, por exemplo, sem ficar incomodado com imprecisões nas escolhas?).

Sinfonia de Paris é mesmo melhor que O Franco Atirador? E este seria mesmo melhor que A Noviça Rebelde? E entre todos os filmes para os quais dei nota 6, quais seriam melhores e por quê? Tudo isso é temporário e frágil, o que não invalida as coisas boas que o esforço de hierarquizar esses filmes pode trazer, sendo a revisão dos filmes em seus respectivos contextos e o próprio exercício de pensar nesses contextos as melhores delas.

Com tanto filme ruim ganhando o Oscar máximo, seria mesmo o filme de Danny Boyle o pior de todos os tempos? Bem, quanto a esta última questão, não tenho dúvida, mas quanto às outras, meu juízo de valor muda praticamente todos os dias, e acredito que o do leitor mais rigoroso também, mesmo que não com os mesmos filmes e as mesmas posições.

As regras do jogo:

– Existe um ranking principal, como todos os vencedores do Oscar de melhor filme em ordem decrescente de preferência. Depois, em cada ano, expandindo uma ideia de Rafael Amaral, do site Palavras de Cinema (que fez a mesma coisa, mas em ordem alfabética), fiz um ranking paralelo, que chamei de sub-ranking, com todos os outros indicados e a nota atribuída por mim a cada um deles, exceto para os poucos que não vi.

– O filme vencedor em primeiro, destacado. Os outros indicados embaixo, em ordem decrescente de preferência, de acordo com minha lembrança, com recentes descobertas ou revisões (parciais ou integrais).

– Os números entre parêntesis no final de cada menção é a nota que atribuo. De 7 em diante, o filme passou de ano. Pode ser considerado bom. Um 6,5 significa recuperação. O 6 indica traços de interesse, mas ausência de empolgação. Daí para baixo o julgamento é cada vez pior.

– Alguns filmes consegui rever para ter uma ideia mais clara de suas posições no sub-ranking ou do merecimento ou não de seus prêmios. Outros não revejo há muitos anos, mas uma passada rápida me indicou como eram e me fizeram lembrar o que senti na época que os vi (incrível como as lembranças do início da cinefilia são vivas). Alguns dos indicados e três dos vencedores (Ziegfeld: O Criador de Estrelas, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei e O Discurso do Rei) foram vistos por mim pela primeira vez.

Diretores autores

Por vezes menciono o filme como pertencente a um diretor (o filme de Ford, o filme de Welles, e por aí vai). Sei que as pessoas que recebem o prêmio máximo da Academia são os produtores, e nem sempre os diretores estão entre eles. Peço aqui uma licença poética para representar a política dos autores de modo radical, mesmo quando me referir a diretores que não são autores de fato, mas apenas funcionários da indústria.

Cartas na mesa, prossigamos. 

Ranking dos vencedores do Oscar, do melhor ao pior

01: Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valley, 1941), de John Ford (10)
  •          Cidadão Kane, de Orson Welles (10)
  •          Com um Pé no Céu, de Irving Rapper (10)
  •          Flores do Pó, de Mervyn LeRoy (8)
  •          Que Espere o Céu, de Alexander Hall (7)

Três obras-primas concorriam ao Oscar de melhor filme no melhor Oscar de todos os tempos. Não faz sentido falar em injustiça. Como Era Verde Meu Vale é tão moderno quanto Cidadão Kane, apesar de a modernidade deste ser mais vistosa. Melhor chamar a atenção para o pouco visto e inacreditável Com Um Pé no Céu, um desses milagres que acontecem de vez em quando, no qual tudo está no lugar certo e acontece no tempo certo. Uma aula de classicismo em sua enésima potência. Hall fez um filme até simpático, mas não está na mesma liga (nem mesmo o superior LeRoy está).

Em Como Era Verde Meu Vale, entre todos os trunfos podemos destacar: a estrutura em flashback, tão rica quanto em Cidadão Kane, apenas menos enigmática; Maureen O’Hara, a maior das atrizes fordianas; Walter Pidgeon, um grande ator subestimado como o par romântico de O’Hara (ele está também no filme de LeRoy); a fotografia assombrosa de Arthur Miller; a brilhante representação da atmosfera galesa; o domínio do espaço, como é típico dos melhores filmes de Ford; a feliz dosagem da música e das lágrimas; a presença de Sara Allgood como a inesquecível matriarca da família de mineiros; os sussurros e olhares captados brilhantemente por Ford. Tudo isso e muito mais fazem deste filme o melhor entre todos os maiores vencedores do Oscar.

02. Os Imperdoáveis (The Unforgiven, 1992), de Clint Eastwood (10)
  •          Retorno a Howard’s End, de James Ivory (7,5)
  •          Questão de Honra, de Rob Reiner (7)
  •          Perfume de Mulher, de Martin Brest (6,5)
  •          Traídos pelo Desejo, de Neil Jordan (6)

A verdade é que não há diferença entre os cinco primeiros desta lista, e a diferença entre eles e os cinco seguintes é minúscula. A crueldade das hierarquizações reside nessas coisas. Por que Os Imperdoáveis está atrás de Como Era Verde Meu Vale e na frente de Sinfonia de Paris? Porque assim me pareceu hoje, como pode não parecer mais amanhã ou outro dia qualquer. Não se trata da ideia, nociva, a meu ver, de que qualquer filme clássico seja melhor que qualquer filme contemporâneo (ainda que, com mais de 30 anos, fica mais difícil incluir o filme de Eastwood na contemporaneidade, não é difícil notar que este filme poderia ser feito hoje pelo mesmo diretor; ou seja, a modernidade de Eastwood permanece).

O que importa é que são todos filmes extraordinários. Dez longas para os quais dou nota 10 entre os quase cem ganhadores. É uma boa porcentagem, por mais que tenhamos dúvidas sobre a capacidade de julgamento dos votantes da Academia e por mais que nos últimos quinze anos a média caia assustadoramente.

03. Sinfonia de Paris (An American in Paris, 1951), de Vincente Minnelli (10)
  •          Um Lugar ao Sol, de George Stevens (10)
  •          Um Bonde Chamado Desejo, de Elia Kazan (8,5)
  •          Decisão Antes do Amanhecer, de Anatole Litvak (8)
  •          Quo Vadis, de Mervyn LeRoy (7,5)

Quase tão bom quanto o Oscar de 1941, quando três obras-primas concorriam ao prêmio máximo, este Oscar teve duas obras máximas, prevalecendo o musical de Minnelli. Um Lugar ao Sol é um grande melodrama noir, o filme que eleva a carreira de Stevens. Não haveria injustiça se ganhasse, como não houve no resultado real. Kazan fez uma bela adaptação de Tennessee Williams, mas sua carreira tem vários filmes melhores. Os filmes de Litvak e LeRoy, por melhor que sejam, estão aí para “cumprir tabela”, no jargão futebolístico.

04. O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), de Francis Ford Coppola (10)
  •          Amargo Pesadelo, de John Boorman (8,5)
  •          Cabaret, de Bob Fosse (8)
  •          Os Emigrantes, de Jan Troell (7,5)
  •          Lágrimas de Esperança, de Martin Ritt (7,5)

Começando pelo último, Lágrimas de Esperança é o máximo que pode alcançar Martin Ritt, diretor com claras limitações que, dependendo do material que tem em mãos, pode render melhor. O filme de Troell é de 1971, mas estreou nos EUA só em 1972, um pouco na cola do sueco mais famoso, Ingmar Bergman. Fosse faria melhor com Lenny e muito melhor com All That Jazz, mas Cabaret é bom o suficiente para estar aí no meio. Amargo Pesadelo é um dos filmes mais originais do período, um suspense em claro, mas o prêmio à obra-prima de Coppola era inevitável, sob o risco de a Academia cair no ridículo mais uma vez.

05. O Franco Atirador (The Deer Hunter, 1978), de Michael Cimino (10)
  •          Amargo Regresso, de Hal Ashby (8,5)
  •          O Céu Pode Esperar, de Warren Beatty e Buck Henry (8)
  •          Uma Mulher Descasada, de Paul Mazursky (8)
  •          O Expresso da Meia-Noite, de Alan Parker (6,5)

O Oscar do Vietnã, com dois representantes (os dois primeiros da lista) do conflito asiático e a maneira como pode ser repensado no cinema. Além disso, é outro Oscar da Nova Hollywood, com dois diretores que despontaram nos anos 1970 e representam o cinema desafiador e crítico da época. Mas também o ano em que Mazursky fez seu melhor filme (ele que também se beneficiou da Nova Hollywood). Beatty estreou na direção com uma comédia bem simpática, refilmagem superior do filme de 1941 de Alexander Hall. Desequilibra a boa seleção de indicados a mão pesada de Parker, que aqui pesou demais.

06. Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004), de Clint Eastwood (10)
  •          O Aviador, de Martin Scorsese (8)
  •          Ray, de Taylor Hackford (7,5)
  •          Sideways – Entre Umas e Outras, de Alexander Payne (5,5)
  •          Em Busca da Terra do Nunca, de Marc Forster (4)      

Dizer que foi o último grande filme premiado com o maior Oscar é pouco. É tão fora da curva o ponto que podemos nos perguntar se não foi um dos erros grotescos na hora de pegar o envelope (envelope errado ou anunciador amante de cinema). Scorsese concorria com seu filme hughesiano, e Hackford, com seu filme scorseseano. Prevaleceu o mestre Eastwood em uma de suas últimas obras-primas. Muitos devem ter perdido o emprego ou o direito de votar depois dessa. Não se defende o bom cinema em vão.

07. A Noviça Rebelde (The Sound of Music, 1965), de Robert Wise (10)
  •          Darling: A que Amou Demais, de John Schlesinger (8)
  •          Mil Palhaços, de Fred Coe (8)         
  •          Doutor Jivago, de David Lean (7)
  •          A Nau dos Insensatos, de Stanley Kramer (6)

Darling é o melhor filme inglês de Schlesinger. Doutor Jivago é um dos mais fracos do grande Lean. Mil Palhaços é um filme extremamente datado, mas isso não significa, necessariamente, que seja ruim. É deliciosamente datado. Tem a cara e o jeito do biênio 1964/1965. O produtor Stanley Kramer prova mais uma vez que não tinha talento como diretor e dependia de uma conjunção de fatores para fazer um bom filme, o que não aconteceu desta vez. Felizmente, ganhou o ótimo e injustiçado Wise, com sua maior obra-prima, desde sempre subestimada.

08. Se Meu Apartamento Falasse (The Appartment, 1960), de Billy Wilder (10)
  •          Entre Deus e o Pecado, de Richard Brooks (8,5)
  •          Peregrino da Esperança, de Fred Zinnemann (7)
  •          Filhos e Amantes, de Jack Cardiff (7)
  •          O Álamo, de John Wayne (6,5)

Richard Brooks fez um grande filme, com interpretação vencedora de Burt Lancaster, mas o ano era de Wilder e do tolo funcionário interpretado por Jack Lemmon que tem o azar de se apaixonar por Shirley MacLaine. O azar vira sorte, mas até lá nosso herói vai penar bastante, como quase todo personagem de Lemmon. Wayne segura o filme que dirigiu com sua presença, mas faltou direção à sua aventura. Zinnemann fez dos seus melhores filmes, mas era pouco para merecer um Oscar.

09. O Poderoso Chefão 2 (The Godfather – Part II, 1974), de Francis Ford Coppola (10)
  •          A Conversação, de Francis Ford Coppola (10)
  •          Chinatown, de Roman Polanski (9)
  •          Lenny, de Bob Fosse (8,5)
  •          Inferno na Torre, de John Guillermin e Irwin Allen (6)

Polanski e Fosse botaram times fortes em campo, especialmente o primeiro, com a releitura do filme noir que apresentava John Huston num papel marcante. Mas o ano foi de Coppola, que fez barba, cabelo, bigode, manicure, pedicure e o que mais podia fazer. Era jogar um dos filmes para cima e premiar o que encaixasse nas mãos. Premiar o filme menor seria uma bela atitude política, já que é um dos filmes mais importantes do chamado cinema da paranóia. Deu o maior. Tudo bem.

10. Rebecca, a Mulher Inesquecível (Rebecca, 1940), de Alfred Hitchcock (10)
  •          O Grande Ditador, de Charles Chaplin (10)
  •          Correspondente Estrangeiro, de Alfred Hitchcock (10)
  •          As Vinhas da Ira, de John Ford (9,5)
  •          Núpcias de Escândalo, de George Cukor (9)
  •          A Longa Viagem de Volta, de John Ford (9)
  •          A Carta, de William Wyler (8,5)
  •          Nossa Cidade, de Sam Wood (8)
  •          Tudo Isto e o Céu Também, de Anatole Litvak (7,5)
  •          Kitty Foyle, de Sam Wood (7)

Esse ano não foi brincadeira. Dois filmes maravilhosos de Hitchcock, que devia mesmo ser o maior premiado, com um ou com outro, mais dois grandiosos de John Ford, uma obra-prima de Chaplin e um filmão de Cukor. Wyler estava sisudo nessa época, mas A Carta é um grande filme. Nossa Cidade é um dos melhores filmes do limitado Sam Wood, graças, talvez, aos cenários de William Cameron Menxies e à fotografia de Bert Glennon, o mesmo de No Tempo das Diligências e outros Fords. O outro dele, Kitty Foyle, vale por Ginger Rogers fora de seu registro habitual. Já Anatole Litvak às vezes consegue competir de igual para igual com os grandes. Tem seus dias de Mamoulian. Aqui, infelizmente, estava num dia de Sam Wood. Sintomaticamente, está ensanduichado entre os dois de Wood nas três últimas posições do sub-ranking deste ano.

11. A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai, 1957), de David Lean (9,5)
  •          Testemunha de Acusação, de Billy Wilder (9,5)
  •          Doze Homens e Uma Sentença, de Sidney Lumet (9)
  •          A Caldeira do Diabo, de Mark Robson (8)
  •          Sayonara, de Joshua Logan (6)

Lean dá uma aula de ritmo narrativo, mas o páreo era duro pois Wilder escalou muito bem Charles Laughton, que carrega o filme nas costas sem precisar (Wilder, espertamente, deixa). Fonda tentou fazer o mesmo, mas Lumet, estreante no cinema, quis mostrar seu valor e impôs sua marca. Talvez tenha sido mais fácil para Lumet controlar o jogo, pois ele filmou uma discussão interna do júri enquanto Wilder flagrou o brilho e a eloquência de um advogado no tribunal, ou seja, um ator atuando, também. Robson e Logan estão dentro de suas médias específicas. No caso de Robson, poderia ser o bastante em ano de indicados mais fracos.

12. Minha Bela Dama (My Fair Lady, 1964), de George Cukor (9,5)
  •          Dr. Fantástico, de Stanley Kubrick (8,5)
  •          Becket, o Favorito do Rei, de Peter Glenville (8)
  •          Mary Poppins, de Robert Stevenson (7)
  •          Zorba, o Grego, de Nikos Kazantzakis (6)

Nos anos 1960, Hollywood ia buscar locações e inspiração na Europa. Várias cerimônias dessa década comprovam esse movimento e a maior parte delas mostra também que havia uma séria crise de qualidade nos filmes talhados para o Oscar. Este ano é uma exceção, já que só um dos candidatos está abaixo da média. Um deles é magnífico, e saiu vencedor.

13. A Malvada (All About Eve, 1950), de Joseph L. Mankiewicz (9,5)
  •          Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder (10)
  •          O Pai da Noiva, de Vincente Minnelli (9)
  •          Nascida Ontem, de George Cukor (9)
  •          As Minas do Rei Salomão, de Andrew Marton e Compton Bennett (7)

Dois diretores subestimados por críticos “autoristas” fizeram os melhores filmes entre os indicados. Dois diretores que costumam ser subestimados por críticos conservadores ficaram um pouco atrás, mas também com grandes filmes. Entre Mankiewicz, Wilder, Minnelli e Cukor não devia haver dúvida. O filme de Wilder levaria, se não tivesse incomodado tanta gente. O de Mankiewicz é bom o bastante para não falarmos em injustiça.

14. Do Mundo Nada se Leva (You Can’t Take It With You, 1938), de Frank Capra (9,5)
  •          A Grande Ilusão, de Jean Renoir (10)
  •          Pigmalião, de Anthony Asquith e Leslie Howard (9,5)
  •          A Cidadela, de King Vidor (9)
  •          A Epopeia do Jazz, de Henry King (9)
  •          As Aventuras de Robin Hood, de Michael Curtiz e William Keighley (8)
  •          Quatro Filhas, de Michael Curtiz (8)
  •          Jezebel, de William Wyler (7,5)
  •          Com os Braços Abertos, de Norman Taurog (7)
  •          Piloto de Provas, de Victor Fleming (não visto)

Capra com James Stewart é certeza de filmão. Vitória justa se pensarmos que um francês não ganharia um Oscar naqueles tempos. A Grande Ilusão é de 1937, mas estreou nos EUA em 1938. Os Kings fizeram ótimos trabalhos, e Curtiz chega em dose dupla, embora seu melhor filme no ano, Anjos de Cara Suja, tenha sido indicado apenas para o Oscar de direção, roteiro original e o de melhor ator, James Cagney.

15. Rosa da Esperança (Mrs. Miniver, 1942), de William Wyler (9,5)
  •          Soberba, de Orson Welles (9,5)
  •          Paralelo 49, de Michael Powell (9,5)
  •          E a Vida Continua, de George Stevens (9)
  •          A Canção da Vitória, de Michael Curtiz (8)
  •          Na Noite do Passado, de Mervyn LeRoy (7,5)
  •          Nossos Mortos Serão Vingados, de John Farrow (7,5)
  •          Os Abandonados, de Irving Pichel (7,5)
  •          Em Cada Coração um Pecado, de Sam Wood (7)
  •          Ídolo, Amante e Herói, de Sam Wood (6,5)

Com dez indicados, sobrava até para Sam Wood em dose dupla. O ano era de Orson Welles, que fez um baita filme com Soberba, mesmo que a montagem tenha saído de suas mãos. Quase tão bom quanto o longa de Welles é o de Powell, mas cinema inglês geralmente era só indicado mesmo, pelo menos até o Hamlet de Lawrence Olivier abrir a porteira como melhor filme de 1948. Quem ganhou foi Wyler, que chegou ao ponto máximo de sua carreira com Rosa da Esperança, e de certo modo evitou que um filme modificado pelo estúdio levasse a melhor. Welles teria ficado ainda mais possesso.

16. Hamlet (1948), de Laurence Olivier (9,5)
  •          Os Sapatinhos Vermelhos, de Michael Powell e Emeric Pressburger (10)
  •          Na Cova da Serpente, de Anatole Litvak (9)
  •          O Tesouro de Sierra Madre, de John Huston (9)
  •          Johnny Belinda, de Jean Negulesco (7,5)

Aqui não tinha jeito. Os dois melhores filmes eram ingleses. Hamlet é um assombro visual expressionista que comprova o talento de Olivier também por trás da câmera. Litvak faz seu melhor filme, com uma Olivia de Havilland em estado de graça. Mas a meu ver o filme de Powell e Pressburger, o outro inglês entre os indicados, era invencível, daqueles que terminamos de ver com um sorriso indisfarçável no rosto. Aliás, outro ano bem forte.

17. Operação França (The French Connection, 1971), de William Friedkin (9,5)
  •          A Última Sessão de Cinema, de Peter Bogdanovich (9,5)
  •          Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick (7,5)
  •          Nicholas e Alexandra, de Franklin J. Schaffner (7)
  •          O Violinista no Telhado, de Norman Jewison (6,5)

O Oscar da Nova Hollywood. Os dois melhores filmes são de diretores associados ao movimento (?) ou momento, como quer que se chame o diabo. Ganhou Friedkin, representante da renovação do chamado policial físico. O filme de Bogdanovich é em preto e branco, com um ar saudosista dos mais honestos e uma melancolia bem ao gosto da Nova Hollywood. Kubrick seguiu sua obra-prima 2001 com um filme que nem sempre convence. O trabalho com o grotesco, por exemplo, é bem infeliz, e toda a segunda parte quase azeda o todo. Schaffner e Jewison são representantes do establishment cinematográfico da época.

18. Gigi (1958), de Vincente Minnelli (9,5)
  •          Acorrentados, de Stanley Kramer (8)
  •          Gata em Teto de Zinco Quente, de Richard Brooks (7,5)
  •          Vidas Separadas, de Delbert Mann (7)
  •          A Mulher do Século, de Morton DaCosta (não visto)

Leslie Caron em dobradinha com Minnelli novamente. Novo Oscar, após Sinfonia de Paris. Caron não recebeu nenhuma indicação, o que é bem injusto. De todo modo, ganhou o melhor filme entre os indicados, o que não é frequente para a Academia de Hollywood. O quase sempre limitado Kramer concorria com o melhor filme de sua carreira, um forte e bem construído libelo antirracista. Brooks e Delbert Mann estão quase em pé de igualdade, o que nos diz que algo deu errado… para Brooks.

19. Aconteceu Naquela Noite (It Happenned One Night, 1934), de Frank Capra (9)
  •          Cleópatra, de Cecil B. De Mille (9,5) 
  •          Imitação da Vida, de John Stahl (9,5)
  •          A Alegre Divorciada, de Marc Sandrich (9)
  •          Miss Generala, de Frank Borzage (8)
  •          Villa Villa, de Jack Conway (7,5)
  •          A Família Barrett, de Sidney Franklin (7,5)
  •          A Ceia dos Acusados, de W.S. Van Dyke (7)
  •          Legião dos Abnegados, de Irving Cummings (7)
  •          Aí Vem a Marinha, de Lloyd Bacon (não visto)
  •          A Casa dos Rothschild, de Alfred L.Werker (não visto)

De Mille fez um de seus maiores filmes. Seu Cleópatra é muito mais erótico que o de Mankiewicz, feito quase 30 anos depois. A cena do presente embrulhado num tapete é muito mais sensual com Claudette Colbert do que com Elizabeth Taylor, e o Código Hays já estava à espreita. O filme de Capra é inferior, mas não tanto. Não dá para dizer que desmerecia o Oscar. Já o de Stahl é uma maravilha que poderia sair igualmente vencedora. A Alegre Divorciada é o melhor encontro da dupla Ginger Rogers/Fred Astaire, embora O Picolino (1935) seja mais famoso. Borzage fez um filme menor, mas plenamente agradável, e os outros que vi são mais ou menos o que se espera deles, pelo que lembro (devo confiar nas minhas notas da época, afinal).

20. Os Melhores Anos de Nossas Vidas (The Best Years of Our Lives, 1946), de William Wyler (9)
  •          A Felicidade Não se Compra, de Frank Capra (10)
  •          Henrique V, de Laurence Olivier (8)
  •          Virtude Selvagem, de Clarence Brown (7,5)
  •          O Fio da Navalha, de Edmund Goulding (7)

Fez-se justiça mais uma vez com Wyler, que ganhou o Oscar com seus melhores filmes (este e Rosa da Esperança). 1946 foi outro belo ano, com o filme inglês de Olivier, que é de 1944, estreando nos EUA só em 1946, por motivos óbvios. Capra é muito criticado pelas doses de açúcar, mas o filme tem uma mise en scène impecável. Lamentável Paixão dos Fortes, de John Ford, não ter sido indicado. Mas foi um ano de grandes filmes mal ou pouco indicados: Notorious, Duelo ao Sol, O Estranho, Silêncio nas Trevas, Os Assassinos.

21. Farrapo Humano (The Lost Weekend, 1945), de Billy Wilder (9)
  •          Alma em Suplício, de Michael Curtiz (9,5)
  •          Quando Fala o Coração, de Alfred Hitchcock (9)
  •          Marujos do Amor, de George Sidney (8)
  •          Os Sinos de Santa Maria, de Leo McCarey (8)

Na época a discussão só existia na França, e mesmo assim precisava ser reabastecida pelos Cahiers du Cinéma na década seguinte para chegar a um número significante de cinéfilos, mas temos cinco grandes diretores entre os indicados, a quem, tirando Hitchcock, que o seria logo mais, poucos chamariam de autores. Curiosamente, Wilder e Curtiz realizaram seus filmes mais, digamos, autorais, aqueles que mais carregam traços pessoais, de uma visão de mundo própria. O de Curtiz, principalmente, merecia a estatueta mais importante. Mas o prêmio para o filme de Wilder está de bom tamanho.

22. Rocky, Um Lutador (Rocky, 1976), de John G. Avildsen (9)
  •          Taxi Driver, de Martin Scorsese (10)
  •          Esta Terra é Minha Terra, de Hal Ashby (9,5)
  •          Rede de Intrigas, de Sidney Lumet (8,5)
  •          Todos os Homens do Presidente, de Alan J. Pakula (8,5)

Sem dúvida, este é um dos grupos de indicados mais fortes de todos os tempos. Talvez até o mais forte (já que outros anos fortes tinham dez indicados, enfraquecendo o conjunto). Isto mostra como os anos 1970 representaram um ganho estético da produção média hollywoodiana em relação à década anterior. Basta comparar o nível dos indicados e ver se há igual em todo o período 1960-1970 (incluí 1970 como uma lambuja para os matemáticos). Rocky representava um salto para trás naquele ano, em matéria de modernidade. Isso não podemos ignorar. Mas que é um baita filme, isso é. E é só o terceiro melhor entre os indicados.

23. O Maior Espetáculo da Terra (The Greatest Show on Earth, 1952), de Cecil B. DeMille (9)
  •          Depois do Vendaval, de John Ford (10)
  •          Moulin Rouge, de John Huston (9)
  •          Ivanhoé, de Richard Thorpe (6,5)
  •          Matar ou Morrer, de Fred Zinnemann (6)

Três grandes filmes competiam com dois filmes apenas razoáveis, para vermos que a Academia já fazia suas lambanças na era de ouro do cinema. Ford não ganhar foi palhaçada dupla, pois o filme do DeMille, apesar de excelente, tem palhaço. Huston fez um de seus melhores filmes nesse ano.

24. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), de Woody Allen (9)
  •          A Garota do Adeus, de Herbert Ross (8)
  •          Star Wars Episódio IV: Uma Nova Esperança, de George Lucas (7)
  •          Momento de Decisão, de Herbert Ross (7)
  •          Julia, de Robert Zinnemann (7)

Em comparação com os Oscars de 1976 e 1978, este representa bem o ocaso da chamada Nova Hollywood. O filme mais moderno é o de Allen, cuja carreira independia de movimentos ou escolas. George Lucas era totalmente entrosado com a Nova Hollywood, mas fez o filme que é frequentemente apontado como a tampa do caixão do cinema mais crítico e ambíguo que reinava artisticamente naqueles tempos. Ross também se desenvolvia num caminho à parte. O Oscar de 1978, concedido em 1979, representará uma breve sobrevida à Nova Hollywood.

25. Lawrence da Arábia (Lawrence of Arabia, 1962), de David Lean (8,5)
  •          O Sol é Para Todos, de Robert Mulligan (7)
  •          O Grande Motim, de Lewis Milestone (7)
  •          O Mais Longo dos Dias, de Ken Annakin e Andrew Marton (6)
  •          Vendedor de Ilusões, de Morton DaCosta (não visto)

Lean nada de braçada num ano de indicados pouco notáveis. Mulligan se tornaria um cineasta melhor poucos anos depois. Milestone estava em fim de carreira, e se segura dignamente num filme que já nascia envelhecido (também por ser mais uma refilmagem). Não vi o filme de DaCosta, não deu para ver tudo, mas vi (nos anos 1990) o de Annakin e Marton, que em sua época fora apelidado de “o mais chato dos filmes”.        

26. Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961), de Robert Wise (8,5)
  •          Desafio à Corrupção, de Robert Rossen (8,5)
  •          Julgamento em Nuremberg, de Stanley Kramer (7)
  •          Os Canhões de Navarone, de J. Lee Thompson (6)
  •          Fanny, de Joshua Logan (6)

Entre o musical e a sinuca. Paul Newman como o rapaz inconsequente e bom de taco e a juventude envolvida com as brigas de rua em Nova York. O Oscar de 1961 se moveu entre esses dois filmes, artisticamente falando. Do lado “cinema de produtor”, três pesos pesados ameaçavam arrombar a festa. Felizmente, nenhum deles conseguiu.

27. O Bom Pastor (Going My Way, 1944), de Leo McCarey (8,5)
  •          À Meia Luz, de George Cukor (9,5)
  •          Pacto de Sangue, de Billy Wilder (9,5)
  •          Wilson, de Henry King (8)
  •          Desde que Partiste, de John Cromwell (7)

Leo McCarey era um diretor inventivo, mesmo por trás de filmes mais discretos como este. O Bom Pastor não é de seus melhores filmes, mas é suficientemente forte para merecer o prêmio. Pena que o fez vencendo dois pesos pesados do ano da deflagração do filme noir – e ainda tinha Laura, de Otto Preminger, um dos esnobados da vez. Principalmente o de Cukor tem uma força que resiste ao tempo. Seu título original (Gaslight) influenciou a nomenclatura de uma prática masculina reprovável.

28. Perdidos na Noite (Midnight Cowboy, 1969), de John Schlesinger (8,5)
  •          Butch Cassidy and Sundance Kid, de George Roy Hill (8)
  •          Ana dos Mil Dias, de Charles Jarrott (7)
  •          Z, de Costa Gavras (7)
  •          Alô, Dolly!, de Gene Kelly (6)

Se repensarmos a luta entre os dragões e as libélulas de que o Los Angeles Times falou a respeito do Oscar de 1967, aqui ganhou uma libélula inglesa, John Schlesinger, já devidamente aclimatado em Hollywood. A premiação pode ser considerada a mais indicativa dos novos tempos que chegavam, já que é o mais sintonizado com a modernidade entre todos os vencedores até então.

29. Sindicato de Ladrões (On the Waterfront, 1954), de Elia Kazan (8,5)
  •          Sete Noivas para Sete Irmãos, de Stanley Donen (9,5)
  •          A Nave da Revolta, de Edward Dmytryk (8,5)
  •          Amar é Sofrer, de George Seaton (7)
  •          A Fonte dos Desejos, de Jean Negulesco (6)

Maldosamente, é possível dizer que é o ano dos grandes filmes de delatores. Ganhou Kazan, mas Dmytryk também estava sendo alvo de críticas por suas atitudes durante o macartismo. Melhor que os dois, o filme de Donen merecia mais o prêmio.

30. Sem Novidade no Front (All Quiet on the Western Front, 1930), de Lewis Milestone (8,5)
  •          Alvorada do Amor, de Ernst Lubitsch (9)
  •          A Divorciada, de Robert Z. Leonard (7,5)
  •          O Presídio, de George W. Hill (7)
  •          Disraeli, de Alfred E. Green (6,5)

Subestimado por inúmeros críticos (inclusive por mim), Sem Novidade no Front se sustenta muito bem pelo impacto visual das imagens à Murnau, que Milestone compõe com impressionante cuidado. Mas tinha um Lubitsch concorrendo, e aí fica difícil. Robert Z. Leonard, outro diretor que dependia de ventos favoráveis, fez um de seus trabalhos mais interessantes. Os outros filmes, por mais que tenham suas virtudes, não valem muito o dedo (ou o teclado) gasto.

31. Gente Como a Gente (Ordinary People, 1980), de Robert Redford (8)
  •          Touro Indomável, de Martin Scorsese (10)
  •          O Homem Elefante, de David Lynch (9)
  •          Tess, de Roman Polanski (8)
  •          O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted (7)

Outro ano inspirado, segundo os indicados. Scorsese fez o melhor filme, Polanski e Lynch, os mais com cara de Oscar, filmes de prestígio, artísticos (normalmente isto seria irônico, mas não aqui). O filme de estreia de Redford na direção tem inúmeras qualidades, mas muitos falaram em grande injustiça.

32. O Grande Motim (Mutiny on the Bounty, 1935), de Frank Lloyd (8)
  •          Os Implacáveis (Les Misérables), de Richard Boleslawski (10)
  •          O Delator, de John Ford (9)
  •          Capitão Blood, de Michael Curtiz (9)
  •          O Picolino, de Mark Sandrich (8,5)
  •          A Mulher que Soube Amar, de George Stevens (8)
  •          Vamos à América, de Leo McCarey (8)
  •          Lanceiros da Índia, de Henry Hathaway (7,5)
  •          David Copperfield, de George Cukor (7)
  •          Sonho de uma Noite de Verão, William Dieterle e Max Reinhardt (7)
  •          Melodia da Broadway 1936, de Roy Del Ruth (7)
  •          Oh, Marietta, de W.S Van Dyke e Robert Z. Leonard (6,5)

Com um grande Ford (que ganhou diretor, tendo sua carreira alavancada, finalmente) e um grande Curtiz, o Oscar principal deveria ter ido para a versão extraordinária que Boleslawski fez do livro de Victor Hugo. O Grande Motim foi o quinto melhor entre os filmes indicados, e levou. Apesar de ser um belo filme, este foi mais um ano que entrou para a série das grandes injustiças do Oscar.

33. Amadeus (1984), de Milos Forman (8)
  •          Passagem para a Índia, de David Lean (8,5)
  •          Um Lugar no Coração, de Robert Benton (7)
  •          A História de um Soldado, de Norman Jewison (6)
  •          Os Gritos do Silêncio, de Roland Joffé (5)

Forman era bom. Podia fazer um filme com jeito e cara de Oscar e fazê-lo bem. É certo que o Mozart de seu filme é um bobalhão enquanto Salieri é o injustiçado. Mas essa narrativa é muito bem construída, com uma série de cenas dignas de elogios. Apesar disso, o melhor filme era o de Lean, que também tinha cara e jeito de Oscar.

34. Ben-Hur (1959), de William Wyler (8,5)
  •          Anatomia de um Crime, de Otto Preminger (9,5)
  •          Almas em Leilão, de Jack Clayton (9)
  •          O Diário de Anne Frank, de George Stevens (7)
  •          Uma Cruz à Beira do Abismo, de Fred Zinnemann (7)

Fred Zinnemann é o diretor que quando faz melhor, faz um filme nota 7 (ou 3 estrelas, dependendo do sistema de cotações). Wyler é papa-Oscar, mesmo quando tem um Preminger superior em seu encalço. O filme inglês da vez, Almas em Leilão, é belíssimo, de extrema importância para o cinema moderno inglês que estava começando a dar as cartas. E Stevens, infelizmente, nunca mais se recuperou do academicismo crônico que o acometeu após Um Lugar ao Sol.

35. Casablanca (1942), de Michael Curtiz (8)
  •          Consciências Mortas, de William A. Wellman (10)
  •          O Diabo Disse Não, de Ernst Lubitsch (10)
  •          A Canção de Bernadette, de Henry King (9)
  •          Nosso Barco, Nossa Alma, de David Lean e Noel Coward (8)
  •          Original Pecado, de George Stevens (8)
  •          A Comédia Humana, de Clarence Brown (7)      
  •          Madame Curie, de Mervyn LeRoy (7)
  •          Por Quem os Sinos Dobram, de Sam Wood (6)
  •          Horas de Tormenta, de Herman Shumlin (não visto)

O Oscar dos filmes que estrearam em 1943 foi para um filme de 1942. Coisas da guerra. Curtiz fez um filme menos inspirado que outros de sua bela carreira, mas ganhou uma fama impensada, como diálogos decorados e repetidos por fãs e Humphrey Bogart e Ingrid Bergman virando estrelas máximas de Hollywood. O veterano Lubitsch faz um filme para fazer brilharem todas as ruas do mundo, mas saiu de mãos abanando. Wellman então, fez um filme farol para o drama americano, tornou-se um dos preferidos de Clint Eastwood. Ao contrário de Lubitsch, nem indicado a melhor diretor foi. Absurdo, ainda mais porque um dos indicados, Clarence Brown, estava longe de seus melhores momentos. Sam Wood volta a ser indicado, e volta também a ocupar uma das últimas posições no sub-ranking do ano.

36. O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991), de Jonathan Demme (8)
  •          A Bela e a Fera, de Gary Trousdale e Kirk Wise (7,5)
  •          Bugsy, de Barry Levinson (6)
  •          JFK – A Pergunta que Não Quer Calar, de Oliver Stone (5,5)
  •          O Príncipe das Marés, de Barbra Streisand (5)

Queria rever Bugsy, apesar de Levinson ser um diretor limitado. Não deu tempo, então ele vai com a nota que dei na época e a posição correspondente a ela. Demme fez seu melhor filme e também o melhor entre os indicados. Uma animação nunca ganhou o Oscar de melhor filme, não seria com A Bela e a Fera que isso iria acontecer. Stone até chegou a fazer bons filmes, embora fosse raro de acontecer. Com JFK, cumpre tabela. Streisand, infelizmente, não vingou na direção. Chegou perto disso com O Espelho Tem Duas Faces. Depois desse, não dirigiu mais, mas lançou vários discos.

37. Os Infiltrados (The Departed, 2006), de Martin Scorsese (8)
  •          Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood (8,5)
  •          A Rainha, de Stephen Frears (7)
  •          Pequena Miss Sunshine, de Jonathan Dayton e Valerie Faris (6)
  •          Babel, de Alejandro Gonzales Iñarritu (5)

Havia um receio de que a Academia repetisse a presepada do ano anterior (nota do editor: quando o vencedor foi Crash) e premiasse Babel, que jogava na mesma liga, preterindo os filmes de Scorsese e Eastwood, facilmente os melhores. Felizmente, Scorsese ganhou como diretor e, simbolicamente, por melhor filme (essa ideia de produtores subirem no palco para receber o maior prêmio é bem ridícula, mas é como funciona Hollywood).

38. Golpe de Mestre (The Sting, 1973), de George Roy Hill (8)
  •          Gritos e Sussurros, de Ingmar Bergman (10)
  •          O Exorcista, de William Friedkin (9,5)
  •          Loucuras de Verão, de George Lucas (7,5)
  •          Um Toque de Classe, de Melvin Frank (5)

Roy Hill deu um golpe de mestre enquanto as loucuras de Lucas ficaram nas ruas e os gritos de Bergman foram soterrados pelos sussurros. Exorcizamos todos eles e saímos com um toque de classe fajuto. Ano esquisito, em que a Academia temeu premiar um estrangeiro ou um filme de horror.

39. E o Vento Levou (Gone With the Wind, 1939), de Victor Fleming (8)
  •          No Tempo das Diligências, de John Ford (10)
  •          Ninotchka, de Ernst Lubitsch (9,5)
  •          O Morro dos Ventos Uivantes, de William Wyler (9,5)
  •          Duas Vidas, de Leo McCarey (9)
  •          A Mulher Faz o Homem, de Frank Capra (8,5)
  •          O Mágico de Oz, de Victor Fleming (8,5)
  •          Vitória Amarga, de Edmund Goulding (7,5)
  •          Carícia Fatal, de Lewis Milestone (7,5)
  •          Adeus, Mr. Chips, de Sam Wood (6,5)

1939 foi um dos anos mais fortes da história do cinema americano. Logicamente, isso iria refletir no nível dos indicados, ainda que a Academia sempre encontrasse um jeito de colocar um de Sam Wood, para equilibrar a balança. E o Vento Levou não era o melhor deles. A troca de diretores o prejudicou. Cukor foi o diretor principal no começo, e muito do que fez persiste na primeira hora do filme, a melhor. Mas o filme é desigual, não tanto por culpa da duração, mas pela falta de unidade. Melhor seria se Selznick tivesse dirigido, já que ele oprimia os demais diretores com sua presença de produtor.

Os três que Ford dirigiu no ano são melhores, mas só um entrou na lista final, e ainda faltou indicarem a obra-prima de Hawks, Paraíso Infernal. O próprio diretor creditado por E o Vento Levou concorria com um filme mais redondo. Os três filmes de Wyler (Rosa da Esperança, O Melhor Ano de Nossas Vidas, Ben-Hur) que venceriam a categoria no futuro são sublimes. O Morro dos Ventos Uivantes está no mesmo nível.

40. A Grande Ilusão (All the King’s Men, 1949), de Robert Rossen (8)
  •          Quem é o Infiel?, de Joseph L. Mankiewicz (10)
  •          Tarde Demais, de William Wyler (8,5)
  •          Almas em Chamas, de Henry King (7)
  •          O Preço da Glória, de William A. Wellman (7)

Um ano fraco para dois mestres, King e Wellman. Mankiewicz, por outro lado, arrebentou. Estava em grande fase, reconhecida no Oscar do ano seguinte com o maior prêmio para A Malvada. O filme de Rossen é forte e importante. Não morro de amores por ele (ou por qualquer outro de Rossen), mas também não vou dizer que foi injusto.

41. Kramer vs Kramer (1979), de Robert Benton (8)
  •          All That Jazz: O Show Deve Continuar, de Bob Fosse (9,5)
  •          Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola (9)
  •          O Vencedor, de Peter Yates (8)
  •          Norma Rae, de Martin Ritt (5)

Os órfãos da Nova Hollywood reclamaram muito do prêmio para um melodrama, mas a verdade é que Kramer vs Kramer é um belíssimo filme, dos melhores realizados por Benton. Se não está à altura dos filmes de Coppola e Fosse, não dá para dizer que é um mau vencedor. Se o prêmio fosse para Norma Rae, comprovação de que a carreira de Ritt já estava em decomposição, aí, sim, seria possível. Vale destacar ainda o filme do sempre subestimado Yates.

42. Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country for Old Men, 2007), de Joel e Ethan Coen (8)
  •          Sangue Negro, de Paul Thomas Anderson (7)
  •          Desejo e Reparação, de Joe Wright (7)
  •          Conduta de Risco, de Tony Gilroy (6,5)
  •          Juno, de Jason Reitman (5,5)

Este é um ano que ilustra bem como a Academia, quando faz o minimamente certo, dá uma boa média do que foi a temporada. Vários filmes melhores que esses indicados estrearam naquele ano nos EUA, mas o número de piores é ainda maior. Num mundo perfeito, o filme dos Coen nem seria indicado, pois havia melhores que ele naquele ano. No mundo que temos, foi o vencedor, e devemos comemorar, pois dos indicados era o melhor mesmo.

43. Guerra ao Terror (The Hurt Locker, 2008), de Kathryn Bigelow (8)
  •          Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino (8)
  •          Avatar, de James Cameron (7,5)
  •          Up: Altas Aventuras, de Pete Docter e Bob Peterson (7)
  •          Distrito 9, de Neill Blomkamp (6)
  •          Um Sonho Possível, de John Lee Hancock (5)
  •          Preciosa, de Lee Daniels (5)
  •          Amor Sem Escalas, de Jason Reitman (5)
  •          Educação, de Lone Scherfig (5)
  •          Um Homem Sério, de Joel e Ethan Coen (4,5)

O belo filme de Bigelow é de 2008, data de sua exibição no Festival de Veneza, mas só ganhou o Oscar de 2009, pois foi nesse ano que estreou nos EUA. Os irmãos Coen aparecem com um filme terrível, o pior que realizaram. Penso que só foram indicados porque ganharam no ano anterior. Se bem que os membros da Academia podem ter encontrado uma razão pior. Tarantino com um filme menor, mas foi o único que disputou pra valer com Bigelow, do ponto de vista cinematográfico. Ela não iria perder para o ex-marido, Cameron, que vinha em terceiro.

44. Titanic (1997), de James Cameron (8)
  •          Los Angeles: Cidade Proibida, de Curtis Hanson (8)
  •          Melhor é Impossível, de James L. Brooks (7)
  •          Gênio Indomável, de Gus Van Sant (7)
  •          Ou Tudo ou Nada, de Peter Cattaneo (5)

Tirando Ou Tudo ou Nada, o fraco representante da Inglaterra, é um grupo decente de indicados, com Hanson e Cameron despontando. Venceu o segundo, que a partir daí teve cacife para desenvolver Avatar. Titanic ainda guarda o recorde de maior número de indicações, 14, junto com A Malvada e La La Land. E também o de Oscars vencidos, 11, junto com Ben-Hur e O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei.

45. Um Estranho no Ninho (One Flew Over The Cuckoo’s Nest, 1975), de Milos Forman (8)
  •          Barry Lyndon, de Stanley Kubrick (10)
  •          Um Dia de Cão, de Sidney Lumet (9)
  •          Tubarão, de Steven Spielberg (8)
  •          Nashville, de Robert Altman (7)

Ano de Kubrick, tão claro e evidente que é possível falar em escândalo, mesmo que o filme de Forman tenha seus diversos achados. O filme de Lumet coroa a excelente fase do diretor nos anos 1970 e o de Spielberg representa o sucesso da faceta mais pop da Nova Hollywood. Sobre o celebrado Nashville, penso que nele está o melhor e o pior de Altman.

46. Grande Hotel (1932), de Edmund Goulding (8)
  •          O Campeão (1931), de King Vidor (10)
  •          O Expresso de Shanghai (1932), de Josef Von Sternberg (10)
  •          Médico e Amante (1931), de John Ford (9,5)
  •          O Tenente Sedutor (1931), de Ernst Lubitsch (9,5)
  •          Uma Hora Contigo, de Ernst Lubitsch (9)
  •          Depois do Casamento, de Frank Borzage (8)
  •          Sede de Escândalo, de Mervin LeRoy (7)

No ano de Vidor e Sternberg, foi um disparate dar o prêmio máximo para um filme dirigido por Edmund Goulding. Ford e Lubitsch estavam no páreo com filmes fortíssimos. A Academia já mostrava seu conservadorismo no quinto ano de cerimônia, premiando o filme mais próximo do convencional e deixando os inventivos a ver navios. Médico e Amante e O Campeão tiveram o maior número de indicações: 4 cada um.

47. Parasita (2019), de Bong Joon-Ho (7,5)

Legal ver um filme sul-coreano levando a estatueta principal. É uma tentativa de cooptação de toda uma indústria bem-sucedida e de lucrar em cima dessa abertura, mas ao menos dá uma arejada na premiação. Fora que é o vencedor mais interessante em muito tempo. Mas quem devia ganhar era Tarantino com seu injustiçado Era Uma Vez em Hollywood.

48. No Calor da Noite (In the Heat of the Night, 1967), de Norman Jewison (7,5)
  •          Bonnie & Clyde, de Arthur Penn (8,5)
  •          A Primeira Noite de um Homem, de Mike Nichols (8,5)
  •          Adivinhe Quem Vem para Jantar, de Stanley Kramer (7)
  •          O Fabuloso Doutor Dolittle, de Richard Fleischer (6)

Este é o Oscar dos dragões contra as libélulas, de acordo com matéria do Los Angeles Times da época. Os dragões eram representados por Spencer Tracy, Katharine Hepburn, Stanley Kramer, Richard Fleischer, Rex Harrison, além de um monte de técnicos envelhecidos, que estavam em Hollywood desde o advento do sonoro. As libélulas eram Dustin Hoffman, Faye Dunaway, Warren Beatty, Mike Nichols, Arthur Penn, Norman Jewison e Hal Ashby, ou seja, atores e diretores mais ligados ao moderno, ao cinema que viria. Os anos futuros serão ingratos com essa ideia do Times, já que Fleischer faria filmes muito mais modernos que Nichols e Jewison nos anos 1970.

49. As Aventuras de Tom Jones (Tom Jones, 1963), de Tony Richardson (7,5)
  •          Terra do Sonho Distante, de Elia Kazan (9)
  •          Cleópatra, de Joseph L. Mankiewicz (8)
  •          A Conquista do Oeste, de John Ford, Henry Hathaway e George Marshall (8)
  •          Uma Voz nas Sombras, de Ralph Nelson (7)

Em 1964, auge da invasão inglesa (na música sobretudo, mas não só), a Academia dá o prêmio máximo a um filme inglês, de um diretor, Tony Richardson, chave para o Free Cinema, com um ator (Albert Finney) revelado por ele e Karel Reisz em 1960. Hollywood acompanhando a história do cinema da pátria-mãe. Mas o filme de Kazan é melhor e merecia o prêmio.

50. Patton: Rebelde ou Herói (Patton, 1970), de Franklin J. Schaffner (7,5)
  •          Cada Um Vive Como Quer, de Bob Rafelson (9,5)
  •          M*A*S*H*, de Robert Altman (7)
  •          Aeroporto, de George Seaton (6)
  •          Love Story: Uma História de Amor, de Arthur Hiller (5)

Olhando o copo meio cheio, poderiam ter dado para os dois filmes piores, Aeroporto e Love Story. Se dessem para o primeiro, talvez o cinema catástrofe fosse mais predominante. Ufa… Melhor ganhar o mastodonte de Schaffner, indeciso entre a solenidade e a sátira, mas com momentos belíssimos e um dos melhores atores de todos os tempos, George C. Scott (se não ganhasse como ator, seria o caso de fechar a Academia). Altman, cujo filme tem pontos em comum com Patton, já mostrava o que podia fazer de melhor e de pior, como continuaria a fazer em alguns de seus filmes mais celebrados (Nashville, Cerimônia de Casamento, Short Cuts). Mas é de se lamentar que o melhor filme de Rafelson não tenha sido premiado, nem mesmo indicado para melhor direção.

51. A Vida de Emile Zola (The Life of Emile Zola, 1937), de William Dieterle (7,5)

  •          Cupido é Moleque Teimoso, de Leo McCarey (9,5)
  •          Nasce uma Estrela, de William A. Wellman (9,5)
  •          No Teatro da Vida, de Gregory La Cava (8,5)
  •          Na Velha Chicago, de Henry King (8)
  •          Marujo Intrépido, de Victor Fleming (7,5)
  •          Terra dos Deuses, de Sidney Franklin (7)
  •          Cem Homens e uma Menina, de Henry Koster (7)
  •          Horizonte Perdido, de Frank Capra (6)
  •          Beco Sem Saída, de William Wyler (6)

Dieterle melhora um pouco a fórmula de Pasteur e ganha um Oscar. Leo McCarey, com suas gags geniais, ganhou melhor direção, mas seu filme merecia o prêmio máximo, assim como o de William A. Wellman. Capra e Wyler estavam em momentos bem irregulares em suas carreiras.

52. Cavalgada (Cavalcade, 1933), de Frank Lloyd (7,5)
  •          Adeus às Armas, de Frank Borzage (10)
  •          O Fugitivo, de Mervyn LeRoy (9,5)
  •          State Fair, de Henry King (9)
  •          As Quatro Irmãs, de George Cukor (9)
  •          Dama por um Dia, de Frank Capra (8,5)
  •          Os Amores de Henrique VIII, de Alexander Korda (8,5)
  •          O Amor que Não Morreu, de Sidney Franklin (8)
  •          Rua 42, de Lloyd Bacon (7,5)
  •          Uma Loira para Três, de Lowell Sherman (7)

Neste ano, houve o ajuste para que cada ano integral tivesse o seu prêmio. Para isso, valeram filmes estreantes entre agosto de 1932 e dezembro de 1933, num espaço de elegibilidade de 17 meses, ao contrário dos 12 habituais, de agosto a julho do ano seguinte. Adeus às Armas é um dos filmes mais modernos e ousados de que tenho notícia. Claro que não ganharia o prêmio principal. Mas com seis outras opções, podiam ter escolhido um filme mais forte. Olhando em retrospecto, este é um daqueles anos em que o conservadorismo da Academia se mostra pleno. Felizmente, ao menos, Cavalgada é um bom filme de forma conservadora. Aliás, mesmo com o grande número de indicados, todos, mesmo o último colocado no meu sub-ranking, têm qualidades.

53. A Volta ao Mundo em 80 Dias (Around the World in 80 Days, 1956), de Michael Anderson (7,5)
  •          Os Dez Mandamentos, de Cecil B. De Mille (9,5)
  •          Sublime Tentação, de William Wyler (8,5)
  •          Assim Caminha a Humanidade, de George Stevens (7)
  •          O Rei e Eu, de Walter Lang (5,5)

Entre a majestade de De Mille e a mediocridade de Walter Lang, premiou-se o filme correto, divertido, sem muito brilho. É uma prática bem hollywoodiana.

54. Oliver (1968), de Carol Reed (7,5)
  •          Rachel Rachel, de Paul Newman (9)
  •          Funny Girl, de William Wyler (8)
  •          O Leão no Inverno, de Anthony Harvey (7)
  •          Romeu e Julieta, de Franco Zeffirelli (6)

Bons indicados (até Zeffirelli fez um filme que não agride), mas um tanto retrógrados se comparados aos do ano interior, dos dragões contra as libélulas, que já vislumbrava a mudança de paradigmas em Hollywood e a chegada da Nova Hollywood dos realizadores mais jovens e críticos. O melhor, mais uma vez, foi preterido por um longa convencional, ainda que forte em muitos momentos.

55. A Luz é Para Todos (Gentlemen’s Agreement, 1947), de Elia Kazan (7)
  •          Rancor, de Edward Dmytryk (9)
  •          Grandes Esperanças, de David Lean (9)
  •          De Ilusão Também se Vive, de George Seaton (9)
  •          Um Anjo Caiu do Céu, de Henry Koster (7)

Um dos piores filmes de Kazan lhe rendeu o prêmio máximo da academia. Esse é o tipo de ironia comum em Hollywood. Equilíbrio total entre três dos indicados: Rancor representava o noir, que chegava em seu período áureo; Grandes Esperanças, a classe inglesa de Lean, e De Ilusão Também se Vive era a chama de esperança e alegria de que as pessoas precisavam no pós-guerra.

56. Dança com Lobos (Dances With Wolves, 1990), de Kevin Costner (7)
  •          O Poderoso Chefão 3, de Francis Ford Coppola (10)
  •          Os Bons Companheiros, de Martin Scorsese (9,5)
  •          Ghost – Do Outro Lado da Vida, de Jerry Zucker (7)
  •          Tempo de Despertar, de Penny Marshall (6)

Muitos, incluindo eu, ficaram um pouco com raiva de Costner pelo Oscar que tirou de filmes melhores como O Poderoso Chefão 3 e Os Bons Companheiros. A Academia parece ter se dividido entre os dois veteranos da Nova Hollywood e sobrou para o astro em ascensão. O tempo se encarregou de ressaltar as qualidades de Dança com Lobos, filme um tanto esquecido, por incrível que pareça, e que ainda aguarda revisão mais cuidadosa da parte de muitos críticos (incluindo eu). No mais, esta edição do Oscar lavou a alma da mediocridade imposta na edição anterior, vencida por Conduzindo Miss Daisy.

57. Laços de Ternura (Terms of Endearment, 1983), de James L. Brooks (7)
  •          O Fiel Camareiro, de Peter Yates (8,5)
  •          O Reencontro, de Lawrence Kasdan (8)
  •          Os Eleitos, de Philip Kaufman (8)
  •          A Força do Carinho, de Bruce Beresford (7)

Se Bullitt é o filme mais explosivo e estiloso do subestimado Peter Yates, e Os Quatro Picaretas é o de trama mais inteligente, O Fiel Camareiro é o mais classudo. Não à toa é seu filme de prestígio, de Oscar, e é também muito bem realizado. James L. Brooks iniciava sua carreira como diretor de cinema de filmes agradáveis, palatáveis, quase café com leite, inexplicavelmente com fãs apaixonados. Melhor seria se o Oscar fosse para Yates.

58. Asas (Wings, 1927), de William A. Wellman (7)
  •          Sétimo Céu, de Frank Borzage (10)
  •          A Lei dos Fortes, de Lewis Milestone (7,5)

Apenas três indicados. No primeiro ano do Oscar, numa cerimônia realizada em maio de 1929, a Academia perdeu a chance de premiar uma obra-prima de Borzage (cineasta que perderia outras chances no futuro) e deu o prêmio máximo a um dos filmes menores do (por vezes) grande Wellman. Aurora, de Murnau, ganhou o discutível prêmio de qualidade artística, que no fundo era quase um segundo prêmio de melhor filme, mas também uma espécie de menção honrosa. Esse prêmio para Aurora seria extinto e para todos os efeitos Asas foi considerado o maior premiado pela Academia. Na ocasião, premiou-se os filmes estreados entre meados de 1927 e meados de 1928.

59. No Ritmo do Coração (CODA, 2021), de Sian Heder (7)

Não era o melhor dos concorrentes, mas é muito melhor que seus detratores costumam afirmar. Pior vencedor do Oscar de melhor filme, como andei lendo por aí? Jamais. Tem muitos piores. Os demais indicados revelam um ano, ao menos por esse crivo, de filmes decentes, em que até o pior tem seus momentos.

60. Spotlight – Segredos Revelados (Spotlight, 2015), de Tom McCarthy (7)

Quando a academia perdeu a chance de premiar um filme de ação que poderia mudar ainda mais o panorama de Hollywood e enfraquecer, na comparação (sonho meu, sonho meu!), a baboseira do Universo Marvel. Menos mal que tenha dado o maior prêmio a um filme digno, apesar de sua caretice.

61. Forrest Gump (1994), de Robert Zemeckis (6,5)
  •          Pulp Fiction, de Quentin Tarantino (8,5)
  •          Um Sonho de Liberdade, de Frank Darabont (8)
  •          Quiz Show, de Robert Redford (8)
  •          Quatro Casamentos e um Funeral, de Mike Newell (7)

Tarantino chegava com seu celebrado segundo longa, representando ar fresco em Hollywood. Darabont dava nova cara ao melodrama prisional e Robert Redford dava sequência à sua carreira de diretor com um belo filme. Os votantes resolveram premiar um filme mais espertinho, no mau sentido, de um bom diretor, Zemeckis. Sua inteligência é sensível, mas Forrest Gump tem uma série de problemas que um Oscar não consegue apagar.

62. Green Book: O Guia (Green Book, 2018), de Peter Farrelly (6,5)
  •          Infiltrado na Klan, de Spike Lee (8)
  •          Vice, de Adam McKay (7,5)
  •          Roma, de Alfonso Cuarón (6)
  •          Nasce uma Estrela, de Bradley Cooper (6)
  •          Pantera Negra, de Ryan Coogler (6)
  •          Bohemian Rhapsody, de Bryan Singer (5)
  •          A Favorita, de Yorgos Lanthimos (5)

Novamente a Academia perdeu a chance de fazer história e premiar o filme de Spike Lee, preferindo o filme do “salvador branco”. McKay fez seu melhor filme, Lanthimos também, embora neste último caso não quer dizer muito. Na época dizia-se que um Oscar para Roma daria poderes demais à Netflix.

63. Cimarron (1931), de Wesley Ruggles (6,5)
  •          Skippy, de Norman Taurog (8)
  •          Última Hora, de Lewis Milestone (7,5)
  •          Lágrimas de Amor, de Frank Lloyd (7)
  •          Mercador das Selvas, de W.S. Van Dyke (6)

No início de minha cinefilia, vi na TV vários filmes desses diretores que entrariam em decadência nos anos 1940, tipo Frank Lloyd, Lewis Milestone e W.S. Van Dyke e achava quase tudo medíocre. Hoje, na impossibilidade de rever todos, dou uma passada de olhos em boa parte deles e constato que eram um pouco melhores do que me pareciam, com qualidades espalhadas entre eles e uma preocupação com o enquadramento que poucos filmes têm hoje.

Resolvo, então, reajustar um pouco, para cima, as notas desses filmes (alguns neste ano do Oscar, vários em outros anos), para corrigir a injustiça, mas não ao ponto de cair em erro. Afinal, são filmes que falham em ser realmente grandes, caindo nas suspeitas categorias que vão do interessante ao simpático ou ao digno. O melhor dos indicados me parece ser o de Taurog, mas não imagino um filme infanto-juvenil desses vencendo o prêmio mais importante da indústria. Atribuiriam um segundo Oscar consecutivo a um filme de Milestone? Melhor seria ter indicados melhores. Bons filmes existiam para isso. O de Ruggles mostra, em retrospectiva e involuntariamente, como avançamos bem na luta contra o racismo, apesar de ainda termos muito a avançar. 

64. Melodia da Broadway (The Broadway Melody, 1929), de Harry Beaumont (6,5)
  • No Velho Arizona, de Raoul Walsh (8)
  •          Alta Traição, de Ernst Lubitsch (8)
  •          Hollywood Revue of 1929, de Chuck Riesner (não visto)
  •          O Peso da Lei, de Roland West (não visto)

Walsh menor, Lubitsch menor, sobrou para o musical razoável de Harry Beaumont, que é inferior aos de Walsh e Lubitsch. Não vi dois dos indicados, em meu pior retrospecto da história do Oscar. Em seu segundo ano, o Oscar já enfrenta uma dificuldade tremenda, pois com o advento do sonoro, esse biênio 1928/1929 foi meio complicado. Mas a Academia parecia chegar mais perto de um formato ideal (para ela).

65. Moonlight: Sob a Luz do Luar (Moonlight, 2016), Barry Jenkins (6)
  •          Um Limite Entre Nós, de Denzel Washington (9)
  •          Manchester à Beira-Mar, de Kenneth Lonergan (7,5)
  •          A Qualquer Custo, de David Mackenzie (7)
  •          La La Land, de Damien Chazelle (7)
  •          A Chegada, de Denis Villeneuve (7)
  •          Até o Último Homem, de Mel Gibson (6)
  •          Lion: Uma Jornada para Casa, de Garth Davis (6)
  •          Estrelas Além do Tempo, de Theodore Melfi (5,5)

Uma das maiores surpresas da história do Oscar foi também um dos maiores micos, pois a premiação para o filme inclusivo errado (o melhor entre os indicados era o de Denzel Washington) ocorreu com um erro de Warren Beatty, que titubeou, e Faye Dunaway, que leu La La Land onde deveria ter lido Moonlight. Teriam dado o envelope errado a Beatty, como ele mesmo argumentou? É possível. Nesse caso, dá para suspeitar de sabotagem contra o representante máximo dos votantes progressistas. Esse mico da cerimônia não manchou a vitória de Moonlight, mas causou um anticlímax terrível para os vencedores. Até quando ouvidas as vozes negras são abafadas por forças exteriores.

66. O Homem que Não Vendeu Sua Alma (A Man for All Seasons, 1966), de Fred Zinnemann (6)
  •          Quem Tem Medo de Virginia Woolf?, de Mike Nichols (7)
  •          Os Russos Estão Chegando! Os Russos Estão Chegando!, de Norman Jewison (7)
  •          Alfie, de Lewis Gilbert (6)
  •          O Canhoneiro do Yang-Tsé, de Robert Wise (6)

Um ano de indicados fracos (ao menos para ganharem prêmios), que ilustra bem o que estava por acontecer: uma reviravolta nos estúdios hollywoodianos que abriria portas para jovens e inconsequentes produtores e para um cinema jovial de diretores mais ambiciosos. Nessa lista, o melhor era o filme de Nichols, que no ano seguinte faria o superior A Primeira Noite de um Homem – e seria considerado libélula, mesmo depois de um filme mais pesado como o deste ano. A fábula de Jewison não é nada desprezível e corria por fora. E o grande Wise infelizmente dava um tiro pela culatra após dois filmões consecutivos (Desafio do Além e A Noviça Rebelde): O Canhoneiro do Yang-Tsé nos dá três horas de efeito gangorra, cheio de altos e baixos.

67. Rain Man (1988), de Barry Levinson (6)
  •          Ligações Perigosas, de Stephen Frears (8)
  •          Mississipi em Chamas, de Alan Parker (7)
  •          O Turista Acidental, de Lawrence Kasdan (7)
  •          Uma Secretária de Futuro, de Mike Nichols (6)

Três diretores coringas (Levinson, Parker, Nichols), dois pretensos autores que tiveram grandes momentos (Frears, Kasdan) em uma disputa coesa, bem na média do que foi aquele ano de 1988. Bird era o grande filme do ano, mas foi obviamente esnobado. Eastwood seria recompensado depois. Forest Whitaker não ter sido nem indicado por sua maravilhosa interpretação de Charlie “Bird” Parker diz muito do racismo da academia, maior naqueles tempos. O ano ainda teve Tucker, A Última Tentação de Cristo, Duro de Matar, Um Príncipe em Nova York… Todos melhores que qualquer indicado a melhor filme.

68. Entre Dois Amores (Out of Africa, 1985), de Sydney Pollack (6)
  •          A Honra do Poderoso Prizzi, de John Huston (8,5)
  •          A Testemunha, de Peter Weir (8)
  •          O Beijo da Mulher Aranha, de Hector Babenco (8)
  •          A Cor Púrpura, de Steven Spielberg (5,5)

Huston estava numa excelente reta final de carreira e merecia que seu penúltimo filme ganhasse o maior Oscar. Tinha ainda outras duas boas opções: A Testemunha e O Beijo da Mulher Aranha. Ganhou o cartão postal de Pollack.

69. O Grande Ziegfeld (The Great Ziegfeld, 1936), de Robert Z. Leonard (6)
  •          O Galante Mr. Deeds, de Frank Capra (8)
  •          Adversidade, de Mervyn LeRoy (8)
  •          Fogo de Outono, de William Wyler (7,5)
  •          Romeu e Julieta, de George Cukor (7,5)
  •          A Queda da Bastilha, de Jack Conway (7,5)
  •          A História de Louis Pasteur, de William Dieterle (7)
  •          Três Pequenas do Barulho, de Henry Koster (7)
  •          Casado com Minha Noiva, de Jack Conway (7)
  •          São Francisco, de W.S. Van Dyke (6)

O equilíbrio é a marca deste ano, embora o Oscar deveria ter ido para algum filme que sequer foi indicado. Opções não faltavam: dois dos três que Ford dirigiu (O Prisioneiro da Ilha dos Tubarões e Mary of Scotland), um La Cava (Irene, a Teimosa, que até beliscou algumas indicações), um Lang (Fúria), um Hawks (Caminho para a Glória)… Mesmo entre os indicados, poderiam ter dado o prêmio para os filmes de Capra ou LeRoy. A Academia estar em desacordo com a visão de um crítico é normal. Outro crítico também poderia ter uma visão em desacordo com a minha, já que não existe hierarquia absoluta. Mas não precisava estar tão distante assim do que venceu a prova do tempo, como a Academia ficou tantas vezes.

70. Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989), de Bruce Beresford (6)
  •          Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir (6,5)
  •          Nascido em 4 de Julho, de Oliver Stone (6,5)
  •          Campo dos Sonhos, de Phil Alden Robinson (5,5)
  •          Meu Pé Esquerdo, de Jim Sheridan (5)

A cerimônia do Oscar de 1990 foi a primeira que acompanhei de perto, já como um cinéfilo de carteirinha, tendo visto a maior parte dos filmes que estrearam em 1989 e todos os indicados a melhor filme no cinema. Mas era um ano para desanimar um jovem cinéfilo, um ano de mediocridade, ao menos para a Academia.

71. A Um Passo da Eternidade (From Here the Eternity, 1953), de Fred Zinnemann (6)

  •          Júlio César, de Joseph L. Mankiewicz (9)
  •          A Princesa e o Plebeu, de William Wyler (8,5)
  •          Os Brutos Também Amam, de George Stevens (7)
  •          O Manto Sagrado, de Henry Koster (6)

Por falar em mediocridade, a de Fred Zinnemann foi premiada, enquanto Mankiewicz foi totalmente esquecido. O Manto Sagrado é um filme mediano, mas sua reputação é bem pior que isso, o que não é lá muito justo. De todo modo, mais um ano de Oscar a ser esquecido.

72. O Paciente Inglês (The English Patient, 1996), de Anthony Minghella (6)
  •          Fargo, de Joel e Ethan Coen (7)
  •          Segredos e Mentiras, de Mike Leigh (7)
  •          Shine, de Scott Hicks (7)
  •          Jerry Maguire, de Cameron Crowe (5)

Quando nenhum filme vai muito longe, nem dá para reclamar muito do drama exótico de Minghella. Na verdade, os Coen fizeram um de seus melhores filmes e mereciam o prêmio, embora a distância com o vencedor e mesmo entre os indicados seja pequena.

73. Platoon (1986), de Oliver Stone (6)
  •          Hannah e suas Irmãs, de Woody Allen (10)
  •          Uma Janela para o Amor, de James Ivory (8,5)
  •          A Missão, de Roland Joffe (6)
  •          Filhos do Silêncio, de Randa Haines (5)

Houve uma comoção com A Missão e a elogiada trilha de Ennio Morricone. Mas Stone, goste-se ou não de seu cinema, fez um filme mais autoral, para o bem e para o mal (perdoem a rima), e era o favorito, com 8 indicações, pois os EUA mostravam-se dispostos a encarar cinematograficamente, mais uma vez, o trauma do Vietnã. Allen mostrou ter chegado no ápice de sua forma como diretor, mas ganhou apenas o prêmio de roteiro por sua obra-prima, Hannah e suas Irmãs (7 indicações, 3 Oscars). Um prêmio para Ivory não pegaria nada mal.

74. Marty (1955), de Delbert Mann (5,5)
  •          Suplício de uma Saudade, de Henry King (8)
  •          Férias de Amor, de Joshua Logan (7)
  •          Mister Roberts, de John Ford e Mervyn LeRoy (7)
  •          A Rosa Tatuada, de Daniel Mann (6)

Foram lançados três filmes do Anthony “Super” Mann nesse ano, entre eles a obra-prima Um Certo Capitão Lockhart. Mas a Academia preferiu indicar os Manns errados. Delbert levou a melhor, mas Daniel foi menos medíocre. Se bem que Marty é um dos filmes que não revejo há três décadas.

75. O Último Imperador (The Last Emperor, 1987), de Bernardo Bertolucci (6)
  •          Esperança e Glória, de John Boorman (8)
  •          Nos Bastidores da Notícia, de James L. Brooks (7)
  •          Feitiço da Lua, de Norman Jewison (6)
  •          Atração Fatal, de Adrian Lynne (5)

Boorman fez seu filme com mais cara de Oscar, e merecia ter levado, pois o fez muito bem, era o melhor entre os cinco indicados. O Último Imperador é tido como uma volta à forma de Bertolucci, mas penso ser o contrário, o começo do enfraquecimento definitivo de sua carreira após dois belos filmes: La Luna e Tragédia de um Homem Ridículo.

76. Uma Mente Brilhante (A Beautiful Mind, 2001), de Ron Howard (6)
  •          Assassinato em Gosford Park, de Robert Altman (7,5)
  •          Entre Quatro Paredes, de Todd Field (5,5)
  •          Moulin Rouge, de Baz Luhrmann (5)
  •          O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, de Peter Jackson (4,5)

Devemos lamentar que um dos bons filmes do irregular Robert Altman ficasse só na indicação ou comemorar que O Senhor dos Anéis não arrebatou a maior parte dos votantes da Academia, como não arrebatou este crítico? Jackson faria melhor nos outros filmes da série, e acabaria vencendo com o terceiro deles. Ainda assim, é uma série que não me diz muito.

77. Shakespeare Apaixonado (Shakespeare in Love, 1998), de John Madden (6)
  •          O Resgate do Soldado Ryan, de Steven Spielberg (6)
  •          Além da Linha Vermelha, de Terrence Malick (6)
  •          Elizabeth, de Shekar Kapur (6)
  •          A Vida é Bela, de Roberto Benigni (6)

Todos os indicados se igualam em uma quase mediocridade travestida em qualidade e prestígio. Nenhum é realmente ruim, mas todos têm inúmeros problemas. Melhor esquecer esse ano.

78. Carruagens de Fogo (Chariots of Fire, 1981), de Hugh Hudson (6)
  •          Os Cavaleiros da Arca Perdida, de Steven Spielberg (8)
  •          Atlantic City, de Louis Malle (7,5)
  •          Reds, de Warren Beatty (6,5)
  •          Num Lago Dourado, de Mark Rydell (6)

O encontro de dois veteranos de Hollywood, Henry Fonda e Katharine Hepburn, em Num Lago Dourado, poderia ser melhor, e de todos os indicados esse é o que mais tem cara de Oscar. Pena que o diretor, Mark Rydell, penda para o academicismo em muitos momentos de sua irregular carreira. Filme com cara de Oscar pode escapar do academicismo, embora não seja esta a regra. Reds entre os indicados é uma provocação dos democratas da Academia ao presidente republicano Reagan, e Spielberg seria indicado novamente no ano seguinte por ET. O vencedor é um filme inglês correto, mas sem maiores atrativos além do famoso tema musical de Vangelis.

79. Gladiador (Gladiator, 2000), de Ridley Scott (6)
  •          O Tigre e o Dragão, de Ang Lee (8,5)
  •          Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento, de Steven Soderbergh (6)
  •          Traffic, de Steven Soderbergh (5,5)
  •          Chocolate, de Lasse Halstrom (4)

Se na Academia, esse corpo heterodoxo de profissionais de cinema, houvesse mais coragem, teriam premiado aquele que era disparado o melhor entre os indicados, O Tigre e o Dragão. Como o conservadorismo formal reina entre os votantes da Academia, o prêmio máximo ficou com Gladiador, a baboseira divertida de Scott. Ang Lee seria novamente injustiçado cinco anos depois, para mostrar que os votantes da Academia formam um grupo cada vez mais vexatório.

80. Nomadland (2020), de Chloé Zhao (6)

Num ano com tantos empates técnicos, ganha um filme que está um pouco abaixo dos cinco empatados. Felizmente, está acima da enganação do ano, Minari. Mas quem deveria levar é o filme de Shaka King.

81. Chicago (2002), de Rob Marshall (6)
  •          Gangues de Nova York, de Martin Scorsese (9)
  •          O Pianista, de Roman Polanski (8)
  •          O Senhor dos Anéis: As Duas Torres, de Peter Jackson (6)
  •          As Horas, de Stephen Daldry (5)

Outra das maiores piadas do prêmio foi ter esnobado o grande filme de Scorsese para premiar um musical pouco imaginativo. Ao menos entregaram um Oscar de melhor direção para Polanski. Os hobbitts já estavam à espreita, e As Horas, confesso, quero rever porque foi defendido por Robin Wood e Carla Oliveira, as duas pessoas cujo gosto mais respeito. Por enquanto, fica com a nota que dei quando acabei de ver, há vinte anos.

82. Argo (2012), de Ben Affleck (6)
  •          Amor, de Michael Haneke (7)
  •          As Aventuras de Pi, de Ang Lee (7)
  •          Django Livre, de Quentin Tarantino (6,5)
  •          Lincoln, de Steven Spielberg (6,5)
  •          A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow (6)
  •          O Lado Bom da Vida, de David O’Russell (5,5)
  •          Os Miseráveis, de Tom Hooper (4,5)
  •          Indomável Sonhadora, de Benh Zeitlin (4)

Ano tenebroso, cujo melhor indicado, por melhor que seja, não tem qualidade para merecer a indicação, e com dois indicados francamente ridículos. Próximo.

83. Gandhi (1982), de Richard Attenborough (6)
  •          O Veredicto, de Sidney Lumet (8)
  •          E.T.: O Extraterrestre, de Steven Spielberg (8)
  •          Tootsie, de Sydney Pollack (7)
  •          Desaparecido, de Costa Gavras (6,5)

Do mais emocionante, do mais fantasioso, do mais engraçado e do mais politizado, ganhou o mais oficialesco, o mais talhado para ganhar Oscars. Nas outras indicações, chamou a atenção outra injustiça: Paul Newman arrebentou em O Veredicto, mas perdeu o Oscar de melhor ator para Ben Kinsley, que, suspeito, ganhou mais pelo personagem do que por suas inegáveis qualidades.

84. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei (The Lord of the Rings: The Return of the King, 2003), de Peter Jackson (6)
  •          Sobre Meninos e Lobos, de Clint Eastwood (9,5)
  •          Encontros e Desencontros, de Sofia Coppola (8,5)
  •          Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo, de Peter Weir (7,5)
  •          Seabiscuit: Alma de Herói, de Gary Ross (5,5)

Os hobbits baixaram em peso e, com a ajuda dos fãs, fizeram os três amigos de infância entrarem no carro para sempre. Resultado, o tão merecido segundo Oscar de Clint Eastwood teria de esperar mais um ano. Num mundo perfeito (ops!), o segundo longa de Sofia Coppola e o filme do veterano Weir seriam cotados antes da parafernália de Jackson. Mas o mundo dos Oscars é um mundo bem imperfeito dentro de um outro mundo imperfeito.

85. A Forma da Água (The Shape of Water, 2017), de Guillermo del Toro (5,5)

2017 era o ano de Steven Spielberg, que fez com The Post um de seus melhores filmes. A Academia preferiu um Del Toro adocicado.

86. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância (Birdman or [The Unexpected Virtue of Ignorance], 2014), de Alejandro González Iñarritu (5,5)
  •          Sniper Americano, de Clint Eastwood (9)
  •          O Grande Hotel Budapeste, de Wes Anderson (7,5)
  •          A Teoria de Tudo, de James Marsh (7)
  •          Whiplash, de Damien Chazelle (6,5)
  •          Boyhood, de Richard Linklater (6)
  •          O Jogo da Imitação, de Morten Tyldum (6)
  •          Selma, de Ava DuVernay (5,5)

Selma é o filme que lamento ter achado ruim, e neste ano, um outro filme, acusado injustamente de racista e belicista, era disparado o melhor indicado: Sniper Americano. Iñarritu fez dobradinha de melhor diretor com este e O Regresso no ano seguinte. Aqui, seu filme ganha também o prêmio principal. Onde a Academia estava com a cabeça? Seja onde for, ainda não a recuperou.

87. Beleza Americana (American Beauty, 1999), de Sam Mendes (5)
  •          O Informante, de Michael Mann (8,5)
  •          O Sexto Sentido, de M. Night Shyamalan (7)
  •          À Espera de um Milagre, de Frank Darabont (7)
  •          Regras da Vida, de Lasse Hallstrom (6)

Mais uma vez, a Academia premia o pior entre os indicados. Lembro até hoje da raiva que sentia ao sair do cinema depois de ter visto Beleza Americana. Com o passar do tempo, reconheci algumas qualidades no filme, e ainda assim permanece um dos maiores engodos do Oscar.

88. A Lista de Schindler (The Shindler’s List, 1993), de Steven Spielberg (5)
  •          Vestígios do Dia, de James Ivory (8,5)
  •          O Fugitivo, de Andrew Davis (8)
  •          Em Nome do Pai, de Jim Sheridan (7,5)
  •          O Piano, de Jane Campion (7)

O filme de Spielberg é bem controverso pelas escolhas formais que fazem do final um poço de chorume e das brincadeiras com a cor (o vermelhinho do vestido é ridículo) e com o suspense (dos canos de gás sair apenas água) dentro de uma trama que precisava de um tratamento mais sóbrio e sombrio. Melhor teria ficado o prêmio nas mãos de Ivory e Merchant, que ainda proporcionaram a Anthony Hopkins uma atuação especial. Com O Fugitivo também ficaria em boas mãos.

89. O Discurso do Rei (The King’s Speech, 2010), de Tom Hooper (5)
  •          Toy Story 3, de Lee Unkrich (7,5)
  •          O Vencedor, de David O’Russell (7)
  •          A Rede Social, de David Fincher (7)
  •          Bravura Indômita, de Joel e Ethan Coen (6)
  •          Minhas Mães e Meu Pai, de Lisa Cholodenko (6)
  •          127 Horas, de Danny Boyle (5)
  •          Inverno da Alma, de Debra Granik (5)
  •          A Origem, de Christopher Nolan (4)
  •          Cisne Negro, de Darren Aronofsky (4)

O melhor filme era uma animação. Nunca uma animação ganhou o prêmio máximo. Outro ano para ser esquecido deste século em que Hollywood procura a todo custo enterrar qualquer noção do cinema como arte. O Oscar de melhor filme coroa a mediocridade geral.

90. O Artista (The Artist, 2011), de Michel Hazanavicius (5)
  •          Meia-Noite em Paris, de Woody Allen (7)
  •          Os Descendentes, de Alexander Payne (7)
  •          A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese (7)
  •          Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo, de Bennett Miller (6,5)
  •          Histórias Cruzadas, de Tate Taylor (6)
  •          Cavalo de Guerra, de Steven Spielberg (5)
  •          A Árvore da Vida, de Terrence Malick (4,5)
  •          Tão Forte e tão Perto, de Stephen Daldry (não visto)

Apesar de ter bons filmes entre os indicados, nenhum deles realmente empolga e dois deles são desastrosos – um por ser da veia fordiana de Spielberg e ainda assim decepcionar feio, outro por ter uma profusão de telas de descanso para Windows. Não vi o filme de Daldry e não tenho a menor vontade de ver (o que pode mudar se eu gostar de As Horas em futura revisão). De todo modo, parece outra cerimônia a ser esquecida.

91. Coração Valente (Braveheart, 1995), de Mel Gibson (5)
  •          Razão e Sensibilidade, de Ang Lee (8)
  •          Babe, o Porquinho Atrapalhado, de Chris Noonan (8)
  •          O Carteiro e o Poeta, de Michael Radford (6)
  •          Apollo 13, de Ron Howard (5)

Um melodrama sensível e as aventuras de um porquinho perderam para uma patacoada de Mel Gibson, mas isso não é o mais grave. Pior é lembrar que nesse ano estrearam, e podiam concorrer ao Oscar, As Pontes de Madison, Fogo Contra Fogo, Cassino, Showgirls, À Beira da Loucura, The Addiction, entre outros um pouco menos fortes. Foi um grande ano para o cinema americano, mas a Academia estava de brincadeira. O cinema pulsando nas salas e os votantes dormindo.

92. 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013), de Steve McQueen (4,5)
  •          Gravidade, de Alfonso Cuarón (7)
  •          O Lobo de Wall Street, de Martin Scorsese (6,5)
  •          Nebraska, de Alexander Payne (6,5)
  •          Philomena, de Stephen Frears (6)
  •          Trapaça, de David O’Russell (6)
  •          Clube de Compras Dallas, de Jean-Marc Valée (5,5)
  •          Capitão Philips, de Paul Greengrass (5)
  •          Ela, de Spike Jonze (5)

Tirando Cuarón e, vá lá, Scorsese e Payne, este foi mais um ano da mediocridade. Conseguiram premiar o pior: um filme que presta um desserviço à luta antirracista (tem até o salvador branco no filme), com uma direção sofrível de McQueen.

93. Crash: No Limite (Crash, 2005), de Paul Haggis (4)
  •          O Segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee (8,5)
  •          Munique, de Steven Spielberg (7,5)
  •          Boa Noite e Boa Sorte, de George Clooney (7)
  •          Capote, de Bennett Miller (5,5)

Graças a Danny Boyle, Haggis safou-se de dirigir o pior colocado entre os todos os vencedores do Oscar. O roteirista de Menina de Ouro não foi nada bem na direção. O favorito era o filme de Ang Lee, e era o que devia ter vencido. A surpresa parece ter atingido até Jack Nicholson, responsável por anunciar o prêmio.

94. Quem Quer Ser um Milionário? (Slumdog Millionaire, 2008), de Danny Boyle (3)
  •          Frost/Nixon, de Ron Howard (7)
  •          Milk, de Gus Van Sant (7)
  •          O Leitor, de Stephen Daldry (4)
  •          O Curioso Caso de Benjamin Button, de David Fincher (4)

Último ano com apenas cinco indicados para o prêmio máximo. Danny Boyle conseguiu o grande feito de fazer o pior vencedor do Oscar de melhor filme de todos os tempos. Com tamanho feito, mesmo se todos os outros indicados fossem ruins, poderíamos falar de injustiça. Não eram todos ruins. Ron Howard fez um longa melhor que Uma Mente Brilhante, outro vencedor injusto, e Milk é um Gus Van Sant comportado, mas decente. Na verdade, injustiça é muito pouco para a aberração que envolve a premiação desse ano, e que já começa com a escolha de indicados.


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